A estreita relação entre os genes e a obesidade

É inegável a curiosidade que o ser humano tem sobre si mesmo. Vamos buscar na astrologia, na psicologia e em outras áreas a razão e a justificativa de sermos quem somos: gostos, comportamentos, habilidades, desejos, fragilidades e sentimentos. Há 150 anos, a genética veio se juntar às ciências que colaboram para o autoconhecimento humano e, recentemente, com a popularização e a divulgação dos testes genéticos, é possível conhecer um pouco mais sobre nossas particularidades.
A genética é a área da ciência que estuda o processo de transmissão de características físicas e biológicas de um indivíduo para outro, denominado hereditariedade. A cor dos olhos, o formato do queixo e o tipo sanguíneo, por exemplo, são características herdadas dos nosso pais e transmitidas pelos genes, que são pedaços do DNA — constituído de uma fita dupla, sendo uma delas herdada da mãe, e outra do pai. O DNA é composto por A (adenina), C (citosina), G (guanina) e T (timina), e essa sequência é responsável pelas características dos genes.
A genética tem parte muito importante no aparecimento da obesidade. Sabe aquela pessoa que belisca o dia inteiro? E quem vive com fome, o “saco sem fundo”? Aqueles indivíduos que comem muito e não aumentam de peso de jeito algum? Outros que passam o dia na academia dando tudo de si, controlam a alimentação e, mesmo assim, não emagrecem? Todas essas características podem ser atribuídas a alterações nos nossos genes, chamados de polimorfismos. Alguns desses polimorfismos nos favorecem ou não, ou seja, se funcionamos no modelo 1.0 ou no modelo 2.0, com maior ou menor eficiência, conforme explica a professora Annete Marum, nutricionista e doutoranda em Genética.
O gene FTO é o mais estudado e está relacionado à obesidade, ao nível de saciedade e à compulsão alimentar. Pessoas com poliformismos nesse gene apresentam maior produção de células de gordura, menor queima de gordura para produção de calor e maior nível de grelina, o hormônio da fome. Estima-se que há um gasto energético 30% menor se comparado a pessoas que não possuem essa alteração.
Já a vontade de procurar algo para beliscar pode ser explicada pela alteração no gene LEPR, responsável por fornecer informações para a produção de uma proteína denominada receptor de leptina (hormônio da saciedade). Se há mudanças nesse gene, a produção desse receptor é afetada, e o sinal da saciedade não é enviado.
Pessoas que têm dificuldade em perder peso podem apresentar poliformismos no gene PLIN1, que tem relação com a forma como cada um processa, absorve e usa a energia e as calorias dos alimentos.
Comer carboidratos à noite engorda? Para algumas pessoas que apresentam alterações no gene CLOCK, comer carboidratos à noite pode engordar, pois esse gene controla o ciclo circadiano fazendo com que o gasto de energético diminua, aumentando a compulsão alimentar e o acúmulo de gordura.
Estudos mostram que as alterações no gene MC4R causam aumento da vontade de comer, associado ao comprometimento da sensação de saciedade.
Há ainda outros genes que predispõem à sensibilidade do corpo às gorduras, aos carboidratos, às proteínas e ao sal, aumentando a influência da genética no aparecimento da obesidade. Ressalto que a genética não é sentença de ser obeso, a epigenética, que é a interação entre o meio ambiente (dieta adequada, atividade física, gerenciamento do sono e do estresse, por exemplo) e o gene, pode funcionar como um botão de liga/ desliga na expressão desses genes. O conhecimento sobre os nossos genes é uma ferramenta importante na prevenção e no tratamento de doenças, entre elas, a obesidade. Por isso, é imprescindível a consulta com um nutricionista para minimizar os efeitos na genética em nossa saúde.
Fonte: O Globo