Brasileira lidera estudo com novo DIU de cobre para diminuir sangramento

Embora o dispositivo intrauterino (DIU) de cobre seja seguro e eficaz, o método contraceptivo pode aumentar o sangramento durante a menstruação, motivo pelo qual normalmente não é indicado para mulheres com anemia. Mas um novo DIU que está sendo testado por um time internacional de pesquisadores — coliderado por uma brasileira — pode ajudar a mudar esse cenário.

Na primeira fase de testes em humanos, o novo dispositivo intrauterino, que utiliza uma substância chamada acetato de ulipristal em sua composição, demonstrou potencial de reduzir o volume e o número de dias de sangramento menstrual em mulheres saudáveis. Os resultados preliminares do estudo foram publicados no periódico científico Contraception no último dia 29 de junho.

Utilizado fora do Brasil como uma pílula contraceptiva de emergência e no tratamento de miomas uterinos, o ulipristal é um modulador do receptor da progesterona — hormônio que desempenha papel-chave na regulação do ciclo menstrual. No estudo, o DIU que libera a substância foi inserido em 29 mulheres saudáveis da República Dominicana. Elas foram divididas em três grupos, conforme a dose diária do componente liberada pelo dispositivo ao longo de 12 semanas: 5, 20 ou 40 microgramas (µg/d).

As participantes foram acompanhadas três meses após a inserção e dois meses depois da retirada do dispositivo intrauterino. Além de registrarem diariamente os efeitos do DIU em seu fluxo, elas também passaram por biópsias uterinas e exames de sangue.

Ao final da investigação, os pesquisadores constataram que, independentemente da dose de ulipristal liberada pelo dispositivo, foi observada uma diminuição no número médio de dias de sangramento menstrual. Essa redução foi proporcional ao valor da dose administrada: 16,7% entre as mulheres que receberam 5 µg/d; 40,5% entre o grupo 20 µg/d; e 77% entre o grupo que recebeu 40 µg/d.

Cerca de 70% das voluntárias também relataram redução na quantidade de sangue durante a menstruação. “As voluntárias não tiveram efeitos colaterais importantes, foram os mesmos encontrados no DIU de cobre convencional. Elas tiveram sangramento reduzido, demonstraram satisfação, mantiveram ovulação e os hormônios não foram alterados, além de não apresentarem alteração no fígado nem anemia”, explica ao Jornal da USP a ginecologista Carolina Sales Vieira, professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) e uma das líderes da pesquisa.

De acordo com o estudo, os resultados sugerem que a dose de 20 µg/d parece ser a ideal para promover um perfil de sangramento favorável e, ao mesmo tempo, limitar a ocorrência de efeitos colaterais. O valor, segundo Vieira, também é cerca de 100 vezes menor do que aquele indicado para casos crônicos de miomas uterinos, que são alvo de uma análise em andamento conduzida pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês), após alterações no fígado terem sido observadas em pacientes em tratamento com ulipristal.

“Redução do sangramento, baixa incidência de alterações endometriais associadas ao modulador do receptor de progesterona (PAEC) e nenhum evento adverso sério são achados tranquilizadores do novo Cu-UPA-IUS [sigla em inglês do novo DIU]”, escrevem os autores no estudo.

Conquista para a saúde da mulher

Além de continuar investigando a segurança do novo dispositivo intrauterino, as próximas etapas da pesquisa irão comparar os efeitos do DIU de cobre com ulipristal em relação ao DIU de cobre convencional e, por fim, avaliar o quanto o dispositivo em teste é capaz de impedir a gravidez — todas as voluntárias da fase 1 do estudo eram laqueadas.

Para os autores do estudo, a invenção pode ser especialmente útil às mulheres com baixo nível de hemoglobina, proteína que existe no interior dos glóbulos vermelhos. “Se a gente fornece um DIU de cobre que é seguro e eficaz, mas que não aumenta a perda sanguínea, estamos contribuindo para a saúde da mulher”, avalia Vieira ao Jornal da USP. “Novos estudos ainda poderão avaliar o uso em doenças que aumentam o sangramento na menstruação, como miomas uterinos”.

 

Fonte: Galileu

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