Butantan desenvolve terapia celular em linfoma e leucemia; ensaio clínico deve começar em 2023

Pesquisadores da rede pública de saúde do Distrito Federal estudam evolução do coronavírus, causador da Covid-19, em pacientes.

Instituto Butantan atua no desenvolvimento de um tratamento inovador contra o câncer, que utiliza células CAR-T. Criada nos Estados Unidos, a terapia vem sendo testada desde 2010 de forma experimental em pacientes em estágio terminal de câncer de sangue. Pessoas submetidos à nova terapia apresentaram remissão da doença.

A previsão é que a fase 1 do estudo clínico, com o objetivo de avaliar a segurança do tratamento, tenha início ainda em 2023. O tratamento será testado em pacientes em São Paulo e em Ribeirão Preto (SP) no Núcleo de Terapia Celular Avançada (Nutera), fruto de uma parceria entre Butantan, Universidade de São Paulo (USP) e Hemocentro de Ribeirão Preto.

De acordo com o Butantan, o processo pode durar cerca de 60 dias para cada paciente e consiste na retirada das células de defesa, que serão reformuladas em laboratório para depois serem infundidas no organismo do voluntário.

A primeira fase do estudo irá durar um ano e será conduzida nos hospitais da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Serão incluídos na pesquisa 20 pacientes com linfoma não Hodgkin de células B e 20 pacientes com leucemia linfoide aguda do tipo B, com idades entre 18 e 70 anos, que tiveram recidiva da doença após tratamentos convencionais e não são elegíveis para transplante de medula óssea.

Avaliação da segurança

O ensaio clínico permite avaliar a segurança da terapia, como a possibilidade de efeitos adversos de curto e longo prazo, além da resposta clínica após 30 e 90 dias da infusão das células e a duração da resposta e a sobrevida geral dos voluntários. O estudo conta com um prazo extenso: os indivíduos serão acompanhados por 12 anos após o procedimento – somente depois desse período sem a doença é que a medicina considera o paciente curado.

Segundo o Butantan, a etapa é fundamental para contribuir para a aprovação da CAR-T pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e para a futura disponibilização do tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS).

Até o momento, a terapia é considerada experimental no Brasil, e os resultados dos testes feitos, apesar de positivos, não influenciam na aprovação. Para isso, é necessário conduzir ensaios clínicos de fases 1, 2 e 3, e avaliar a segurança e a eficácia do tratamento em um número maior de voluntários.

A CAR-T é aprovada desde 2017 pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos, e já é aplicada em outras oito regiões: Canadá, Europa, China, Japão, Israel, Austrália, Nova Zelândia e Singapura. No entanto, a terapia conta com um alto custo, chegando a custar US$ 500 mil por paciente.

Como funciona a terapia com células CAR-T

A terapia com células CAR-T (sigla em inglês para receptor quimérico de antígeno) utiliza células do sistema imunológico do próprio paciente, chamadas linfócitos T. No tratamento, os linfócitos são reprogramados para expressar um receptor que reconhece um antígeno específico presente na superfícies de células de certos tipos de câncer de sangue. Dessa forma, a terapia permite que as células de defesa reconheçam e eliminem as células cancerosas.

De forma resumida, o processo consiste na coleta de sangue do paciente, modificação das células T em laboratório e, depois, infusão das células de volta à corrente sanguínea do indivíduo, que fica em observação no hospital por alguns dias após a aplicação. O procedimento completo dura em torno de dois meses, segundo o Butantan.

Como vantagens, a terapia com células CAR-T não danifica células saudáveis, causando menos efeitos adversos do que tratamentos convencionais como a quimioterapia. Segundo o Butantan, pacientes tratados com CAR-T apresentam maior chance de remissão. Estudos apontam que as células modificadas continuam circulando no organismo após 10 anos, podendo agir e combater células tumorais que apareçam eventualmente.

Linfoma não Hodgkin e leucemia

O sistema linfático, composto por linfonodos (ou gânglios), vasos e tecidos, faz parte do sistema imunológico, sendo responsável pela produção das células que atuam na defesa do organismo. Quando um câncer tem origem nesse sistema, ele pode ser considerado um linfoma de Hodgkin ou linfoma não Hodgkin.

A diferença entre os dois tipos está na característica como o câncer se espalha: os linfomas de Hodgkin se disseminam de forma ordenada, a partir de um grupo de linfonodos para o outro, através dos vasos linfáticos. No caso dos linfomas não Hodgkin, o câncer se espalha de forma não ordenada.

Os tecidos do sistema linfático estão espalhados pelo corpo, o que permite que o câncer tenha origem em qualquer lugar. Segundo o Inca, existem mais de 20 tipos diferentes de linfomas não Hodgkin.

O sistema linfático faz parte do sistema imunológico, que ajuda o corpo a combater doenças. Como o tecido linfático é encontrado em todo o corpo, o linfoma pode começar em qualquer lugar. Pode ocorrer em crianças, adolescentes e adultos. De modo geral, o linfoma não Hodgkin torna-se mais comum à medida que as pessoas envelhecem.

Os principais sintomas dos linfomas não Hodgkin são o aumento dos gânglios do pescoço, das axilas ou da virilha, suor noturno em excesso, febre, coceira na pele, cansaço e perda de peso superior a 10% sem motivo aparente.

Conhecida como câncer no sangue, a leucemia tem como principal característica o acúmulo de células doentes na medula óssea, que substituem as células normais.

As leucemias podem ocorrer em qualquer fase da vida, podendo ter manifestações agudas ou crônicas. Existem mais de 12 tipos, sendo quatro consideradas mais recorrentes: a leucemia mieloide aguda (LMA), leucemia mieloide crônica (LMC), leucemia linfocítica aguda (LLA) e leucemia linfocítica crônica (LLC).

No Brasil, de acordo com estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o número de casos novos da doença estimados para cada ano do triênio 2020-2022 é de 5.920 casos em homens e de 4.890 em mulheres. Esses valores correspondem a um risco estimado de 5,67 casos novos a cada 100 mil homens e 4,56 para cada 100 mil mulheres.

Ainda segundo o instituto, em 2019, ocorreram 7.370 óbitos por leucemia no Brasil. A taxa bruta de mortalidade entre os homens foi de 3,98/100 mil homens (4.014 óbitos) e entre as mulheres foi de 3,24/100 mil mulheres (3.356 óbitos).

Fonte: Lucas Rocha, CNN

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