Câncer de colo de útero: conheça causas, tratamento e prevenção da doença

Responsável pela morte de mais de 6,5 mil brasileiras só em 2019, o câncer de colo de útero é o quarto tipo de câncer mais comum entre as mulheres ao redor do mundo. Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) apontam para uma taxa de mortalidade de 5,33 a cada 100 mil mulheres no Brasil.

Especialistas temem que esse quadro (e de diversas outras doenças) se agrave por causa da pandemia de Covid-19, que fez muitas pessoas adiarem os exames diagnósticos, essenciais para uma detecção precoce.

Relação com HPV

Tumores no colo de útero surgem, em quase todos os casos, devido ao papilomavírus humano, o HPV, infecção sexualmente transmissível bastante corriqueira. “A infecção por HPV é uma causa comum do câncer de colo de útero, mas não é o único fator envolvido no desenvolvimento de tumores”, esclarece Flávia Miranda Corrêa, médica pesquisadora da Divisão de Detecção Precoce do Inca a GALILEU. Segundo ela, existem outras condições capazes de tornar o prognóstico mais sério, como tabagismo, imunossupressão, não estar vacinada contra o HPV e não fazer exames de rastreamento.

Portar o vírus, portanto, não significa que a pessoa tem ou terá futuramente um tumor uterino. “A infecção por HPV é extremamente comum, mas ela regride espontaneamente na maioria dos casos”, explica Corrêa. “É bem importante esclarecer isso, porque as pessoas ficam muito apavoradas.”

Além disso, dos mais de 200 tipos de HPV existentes, somente 13 são considerados oncogênicos, incluindo o 16 e o 18, responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer desse tipo. “Temos que frisar bastante que não é qualquer infecção por HPV que vai evoluir para câncer”, tranquiliza a ginecologista. Segundo ela, a progressão para um tumor depende de uma infecção persistente causada por tipos oncogênicos do vírus.

Prevenção dupla

Para reduzir o risco de câncer de colo de útero, o primeiro passo é a vacinação contra o HPV, que deve acontecer prioritariamente antes do início da vida sexual, aponta Corrêa. Oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a meninas entre nove e 14 anos e a meninos entre 11 a 14 anos, a vacina protege contra quatro tipos do vírus, incluindo o 16 e o 18.

Mesmo assim, se uma pessoa (vacinada ou não) contrair um tipo de vírus oncogênico e desenvolver uma infecção persistente, existe outra estratégia preventiva, que são os exames de rastreamento, o famoso Papanicolau. Eles são recomendados a mulheres ou a qualquer pessoa com colo de útero que tenham entre 25 e 64 anos e que já tiveram atividade sexual.

Imunizante quadrivalente contra o HPV  (Foto: Tintin0312/Wikimedia Commons)
Imunizante quadrivalente contra o HPV (Foto: Tintin0312/Wikimedia Commons)

A rotina adotada no Brasil orienta a realização de um Papanicolau a cada três anos após dois exames normais consecutivos realizados em um intervalo de um ano. “A repetição em um ano após o primeiro teste tem como objetivo reduzir a possibilidade de um resultado falso-negativo na primeira rodada do rastreamento”, explica o site do Inca.

Tratamento e sintomas

Os exames são essenciais para a identificação e retirada das chamadas lesões precursoras, alterações no útero que antecedem o câncer. “Esse é um tratamento bem tranquilo, pode ser feito ambulatorialmente ou com, no máximo, um dia de internação”, informa Corrêa, especialista em detecção precoce. “E a possibilidade de cura da lesão precursora é de 100%.”

Já quando a lesão evolui para o câncer, o tratamento depende do estágio do tumor. Corrêa relata que nos estagiamentos iniciais é possível fazer cirurgia para retirar as células cancerosas. Quando a doença já está mais avançada, passam a ser necessárias sessões de radioterapia e quimioterapia. “Quanto mais avançado o estagiamento, menor a sobrevida e pior o prognóstico”, diz a ginecologista.

Dentre os sinais da presença do câncer de colo de útero estão sangramentos fora do período menstrual, como após relações sexuais ou realização de esforço, corrimento amarelado persistente, com cheiro e sangue, e eventuais manifestações urinárias e gastrointestinais. Os sintomas, porém, são um mau sinal. “Quando o câncer de colo de útero fica sintomático, ele geralmente já está avançado. Por isso é importante fazer o rastreamento”, orienta Corrêa.

Representação do exame de rastreamento, o Papanicolau (Foto: BruceBlaus//Wikimedia Commons)
Representação do exame de rastreamento, o Papanicolau (Foto: BruceBlaus//Wikimedia Commons)

Não à toa são organizadas, no Brasil, duas campanhas de conscientização contra o câncer de colo de útero: Janeiro Verde e Março Lilás, que são apoiadas, respectivamente, por instituições como a Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC) e o próprio Inca.

Impactos da pandemia

Seja por medo de serem infectadas pelo Sars-CoV-2 ou devido às orientações e restrições para se manterem em casa, muitas pessoas deixaram de fazer exames de rotina e diagnósticos desde o início da pandemia.

Especificamente em relação à saúde da mulher, 47% das brasileiras relataram ausência na rotina de detecção do câncer de mama em 2021. Já a coleta de Papanicolau sofreu uma diminuição de 42% no ano de 2020 comparado a 2019, de acordo com dados do Sistema de Informação de Câncer (SISCAN) e do Sistema de Informação Ambulatorial (SIA/SUS).

Além disso, alerta Corrêa, foi observada uma redução nos procedimentos de seguimento, como a confirmação de um diagnóstico e tratamento. “Vai haver um represamento de casos, não só de prevenção de câncer, mas de todas as doenças. Vamos ver anos bem difíceis em relação aos serviços de saúde, de piora de todos os indicadores e de mortalidade”, lamenta a médica do Inca.

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