Cerca de um milhão de cirurgias foram adiadas ou canceladas no SUS durante a pandemia, mostra estudo

Tiago Rodella/Assessoria de Imprensa HRAC/USP

Uma pesquisa quantificou o atraso de cirurgias, tanto emergentes como eletivas, durante a pandemia de covid-19 no sistema público de saúde brasileiro. Foram cerca de um milhão de procedimentos cirúrgicos adiados ou cancelados no país, de acordo com um estudo coordenado pelo professor Nivaldo Alonso, do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da USP, em Bauru, e da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). O objetivo do trabalho foi fornecer informações para orientar políticas governamentais para expandir o atendimento cirúrgico durante crises, como a provocada pelo coronavírus. O trabalho foi publicado em 24 de agosto na revista  The Lancet Regional Health – Americas.

Professor Nivaldo Alonso, chefe da Seção de Cirurgia Craniofacial do HRAC/Centrinho e coordenador da pesquisa – Foto: Acervo HRAC-USP

No artigo Associação entre política governamental e atrasos no atendimento cirúrgico emergencial e eletivo durante a pandemia de COVID-19 no Brasil: um estudo de modelagem, pesquisadores relatam que a pandemia de covid-19 impactou significativamente os sistemas de atendimento cirúrgico em todo o mundo, causando acúmulo crescente de procedimentos cirúrgicos. Em muitos países, incluindo o Brasil, o acesso à cirurgia de emergência foi reduzido devido a mudanças na capacidade do sistema de saúde, e cirurgias eletivas foram adiadas a fim de aumentar os recursos médicos disponíveis para pacientes com sars-cov-2. Além disso, trabalhos científicos demonstraram aumento da mortalidade cirúrgica entre os pacientes com covid-19. Segundo o texto, mais de um milhão de procedimentos cirúrgicos foram adiados ou cancelados no sistema público de saúde do Brasil, com o acúmulo de cirurgias eletivas chegando a mais de 900 mil casos.

“Nossas descobertas sugerem que esforços rigorosos para reduzir a disseminação de covid-19 estarão associados a atrasos e cancelamentos reduzidos para cirurgias de emergência, mas exigirão esforços governamentais coordenados para expandir o atendimento cirúrgico para superar atrasos das cirurgias eletivas”, explica o professor Nivaldo Alonso, que assina o artigo com outros pesquisadores que colaboraram com o estudo, de universidades brasileiras, dos Estados Unidos, do Canadá, da Austrália e da Argentina.

Os pesquisadores relatam que, para alcançar sistemas de saúde cirúrgicos resilientes com uma base essencial para a preparação e resposta eficaz às emergências de saúde, os formuladores de políticas públicas devem buscar fortalecer vários aspectos do sistema cirúrgico brasileiro: “Expandir a força de trabalho cirúrgica, não apenas em termos de números absolutos, mas também na distribuição dos cirurgiões pelo país; investir na capacidade hospitalar para garantir a disponibilidade de salas de operações, UTI e leitos; investir em estratégias inovadoras, como consulta de telemedicina para apoiar o cuidado pós-operatório remoto ou tratamento conservador não cirúrgico de condições cirúrgicas; e estabelecer diretrizes locais e regionais baseadas em evidências, a fim de orientar os sistemas hospitalares e permitir a continuação da cirurgia de emergência e urgência, ao mesmo tempo em que triam e rastreiam adequadamente os pacientes cirúrgicos eletivos”.

O estudo foi realizado baseado em estimativas mensais de procedimentos cirúrgicos realizados por Estado, de janeiro de 2016 a dezembro de 2020, obtidas no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus). Também foram construídos modelos de previsão usando dados históricos de volume cirúrgico antes de março de 2020, para prever as operações mensais esperadas de março a dezembro de 2020. Os acúmulos mensais cirúrgicos totais, de emergência e eletivos, foram calculados comparando o volume relatado com o volume previsto.

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