Um estudo que avaliou 119 mulheres com histórico de ideação suicida sugere que, nos dias que rondam a menstruação, elas tendem a vivenciar um aumento no risco de pensamento ou planejamento suicida. A pesquisa foi publicada no último dia 14 de dezembro no periódico The American Journal of Psychiatry.
Os pesquisadores da Universidade de Illinois em Chicago (UIC), nos Estados Unidos, aplicaram nas participantes um questionário diário para rastrear pensamentos suicidas e outros sintomas de saúde mental ao longo de pelo menos
Trata-se do primeiro estudo longitudinal a avaliar como pensamentos suicidas e sintomas relacionados flutuam ao longo do ciclo da menstruação. Pesquisas anteriores não apresentaram esse tipo de rastreamento e apenas trabalharam para estimar o momento exato do ciclo de uma pessoa após uma tentativa de suicídio já ter acontecido.
Apesar dessas limitações, os estudos anteriores observaram um padrão: as tentativas de tirar a própria vida aumentavam nos dias imediatamente antes ou após o início da menstruação, a chamada fase “perimenstrual”. A nova pesquisa sugere que, nesse ponto do ciclo, a ideação suicida é mais grave e o planejamento de um suicídio é mais provável.
“Este estudo estabelece que o ciclo menstrual pode afetar muitas pessoas que têm pensamentos suicidas, tornando-o um dos únicos fatores de risco recorrentes previsíveis identificados para detectar quando uma tentativa de suicídio pode ocorrer”, afirma Tory Eisenlohr-Moul, professora associada de psiquiatria na UIC e autora principal do estudo, em comunicado.
Os dados coletados das 119 participantes permitiram incluir diferenças em como o ciclo afeta os sintomas e a ideação suicida em diferentes pacientes. “Nem todo mundo é sensível aos hormônios do ciclo da mesma maneira, e conseguimos mostrar estatisticamente o valor de incluir diferenças individuais em nossos modelos”, disse a doutoranda Jordan Barone, que coliderou o estudo.
A maioria das pacientes avaliadas relatou que nas fases pré-menstrual e menstrual inicial houve um aumento de sintomas de depressão, ansiedade e desesperança. Já outros grupos relataram mudanças emocionais em diferentes momentos de seu ciclo, enquanto algumas participantes tiveram uma variação de sintomas psiquiátricos que surgiram junto aos pensamentos suicidas.
“As pessoas diferiram em quais sintomas emocionais estavam mais correlacionados com a ideação suicida para elas”, disse Eisenlohr-Moul. “Apenas porque o ciclo faz alguém ficar irritado ou ter oscilações de humor ou se sentir ansioso, não significa necessariamente que isso terá o mesmo efeito na criação de ideação suicida para cada pessoa”, ela explica.
A cientista lidera o laboratório CLEAR, que também estuda o transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM), uma condição associada a um aumento no risco de pensamentos e comportamentos suicidas. Eisenlohr-Moul já liderou estudos que indicam que a doença pode resultar da sensibilidade aumentada de algumas pessoas aos hormônios reprodutivos estrogênio e progesterona.
Em pacientes sem TDPM, os cientistas supõem que podem estar em jogo dinâmicas semelhantes de sensibilidade hormonal. Mas mais pesquisas são necessárias para determinar como esses fatores afetam uns aos outros em cada pessoa, e como essas informações poderiam ser usadas clinicamente para prevenir tentativas de suicídio.
Uma saída pode ser relatar os sintomas de saúde mental ao longo do ciclo menstrual para um cuidado personalizado. “Estamos animados para usar os melhores métodos disponíveis para tentar criar modelos de previsão individuais para cada pessoa, para que não as colocarmos em uma caixa”, disse Eisenlohr-Moul.
* O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. Para mais informações disque 188 ou acesse o site do CVV.
