Como funciona o novo tratamento contra o HIV aprovado pela Anvisa

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou a autorização do registro de um novo medicamento contra o HIV. Com a droga, o tratamento passa a ser feito por meio de um único comprimido que reúne duas substâncias: Dolutegravir 50 mg e Lamivudina 300 mg.

Chamada Dovato, a medicação é de uso diário e pode ser tomada em jejum, representando um regime completo para o tratamento da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana tipo 1 (HIV-1). Ela é destinada a adultos e adolescentes acima de 12 anos de idade, com peso mínimo de 40 kg e sem histórico de resistência ao Dolutegravir ou à Lamivudina.

A Lamivudina é uma molécula que, ao interferir na conversão do RNA viral em DNA, evita a multiplicação do patógeno. Já o Dolutegravir impede a integração do DNA viral ao material genético das células humanas. Ele está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2016 e é utilizado por mais de 400 mil pacientes — cerca de metade das pessoas em tratamento contra o HIV na rede pública.

Como funciona o novo tratamento para HIV aprovado pela Anvisa (Foto: Business Wire)
Como funciona o novo tratamento para HIV aprovado pela Anvisa (Foto: Business Wire)

“A aprovação representa um avanço no tratamento das pessoas portadoras do vírus que causa a aids, já que reúne em uma dose diária dois antirretrovirais que não estavam disponíveis em um só comprimido”, declara a Anvisa em comunicado. “A possibilidade de doses únicas simplifica o tratamento e a adesão dos pacientes.”

Ainda segundo a agência, o Dovato é capaz de diminuir a quantidade de HIV no corpo, mantendo-a em um nível baixo, e promover o aumento na contagem das células CD4 — um tipo de glóbulo branco que atua no combate a infecções, sendo um importante agente do sistema imunológico.

Atualmente, vários dos tratamentos de um único comprimido para HIV combinam ao menos três drogas. “O Dovato fornece resultados expressivos com apenas dois medicamentos, demonstrando ser tão eficaz quanto tratamentos com três ou quatro”, afirma Rafael Maciel, gerente médico da GSK/ViiV Healthcare, empresa que desenvolveu a droga, em nota. “Isso significa manutenção da eficácia com menor utilização de medicamentos e menor potencial de toxicidade.”

A liberação do Dovato tem como base os estudos globais GEMINI 1 e 2, que analisaram mais de 1400 adultos que vivem com HIV, e o levantamento TANGO. Além deles, os resultados do URBAN, divulgados na 18ª Conferência Europeia de Aids (EACS 2021), mostram que a junção de Dolutegravir e Lamivudina implica bom controle do vírus do HIV ao longo de um ano e que os riscos de efeitos adversos graves e descontinuações são baixos.

“Os achados apresentados [pelo URBAN] destacam o importante papel do regime de duas drogas baseados em Dolutegravir como viável e duradouro, demonstrado como opções de tratamento em ensaios clínicos e na prática clínica do mundo real tanto para pessoas virgens de tratamento como para aquelas já virologicamente suprimidas”, analisa Vani Vannappagari, chefe global de Epidemiologia e Evidência do Mundo Real da GSK/ViiV Healthcare.

De acordo com o Ministério da Saúde, hoje há aproximadamente 920 mil brasileiros vivendo com HIV. Dos 89% diagnosticados, 77% fazem tratamento com antirretroviral e 94% das pessoas em tratamento não transmitem o HIV por via sexual por terem atingido carga viral indetectável.

Maciel lembra que é imprescindível que os pacientes iniciem o tratamento o quanto antes e usem os antirretrovirais corretamente, assegurando o controle da infecção e prevenindo a evolução para a aids. “A boa adesão à terapia antirretroviral traz grandes benefícios individuais, como a ampliação da expectativa de vida e o não desenvolvimento de doenças oportunistas”, afirma o médico.

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