Covid-19: veja tudo o que se sabe sobre a Ômicron, classificada como ‘variante de preocupação’ pela OMS

JOHANNESBURG e LONDRES — Autoridades globais reagiram com alarme a uma variante do coronavírus detectada na África do Sul, com a União Europeia, Reino Unido e Índia entre os que já anunciaram controles de fronteira, alfandegários e de viagens mais rígidos enquanto os cientistas procuram determinar se a mutação é resistente às vacinas. A OMS surpreendeu a comunidade científica e batizou de Ômicron a nova variante de preocupação (VOC).

São consideradas variantes de preocupação as cepas com capacidade de se alastrar e impactar no curso da doença — por exemplo, elevando a taxa de transmissão, mudando ou aumentando os sintomas ou reduzindo a efetividade de medidas de saúde, como diagnósticos, vacinação e tratamentos terapêuticos.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou nota técnica nesta sexta-feira recomendando que o governo brasileiro adote medidas de restrições para voos e viajantes vindos de seis países africanos. Entre os países, estão Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue, além da África do Sul. A efetivação das medidas depende de portaria interministerial.

— É uma variante que possui características mais agressivas e que, obviamente, requer das autoridades sanitárias mundiais medidas imediatas. É exatamente o que fizemos há poucos minutos. Já enviamos nossas notas técnicas para os ministérios da Casa Civil, Saúde, Infraestrutura e Justiça no sentido que voos vindos desses países, são países localizados no sul do continente africano, sejam temporariamente bloqueados, não venham para o Brasil — disse o diretor da Anvisa Antonio Barra Torres à GloboNews.

Após a descoberta da nova variante na região, países da Europa, Oriente Médio e Ásia suspenderam voos oriundos do sul da África. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, informou no Twitter que fará a porposta de uma proibição para todos os países membros do bloco. Reino Unido, Alemanha, Itália, França, República Tcheca, Israel, Cingapura e Japão já anunciaram a medida.

Os mercados financeiros mundiais também refletiram a preocupação, com as principais bolsas  em queda temendo o efeito da nova variante sobre a recuperação da economia global.

Israel, Bélgica e Hong Kong já confirmaram casos da nova variante. O caso do país europeu era de uma pessoa não vacinada que viajou para o exterior e testou positivo no dia 22 de novembro.

Veja o que se sabe até agora sobre a nova variante encontrada na África do Sul e que já preocupa diversos países e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Onde e quando encontraram a nova variante?

Cientistas sul-africanos detectaram um pequeno número da variante — chamada por enquanto de B.1.1.529 — na terça-feira, em amostras de 14 a 16 de novembro. NO entanto, a OMS afirma que o primeiro diagnóstico foi em um paciente no dia 9 de novembro.

Na quarta-feira, cientistas sul-africanos sequenciaram mais genomas, informaram ao governo que estavam preocupados e pediram à Organização Mundial da Saúde (OMS) para reunir seu grupo de trabalho técnico sobre a evolução do vírus para sexta-feira.

O país identificou cerca de 100 casos da variante, principalmente em sua província mais populosa, Gauteng.

Como a nova variante surgiu?

Até agora, só há especulação. Um cientista do UCL Genetics Institute em Londres disse que provavelmente evoluiu durante uma infecção crônica de uma pessoa imunocomprometida, possivelmente em um paciente com HIV/AIDS não tratado. A África do Sul tem 8,2 milhões de pessoas infectadas com HIV, o país mais infectado. A variante beta, uma mutação identificada no ano passado na África do Sul, também pode ter vindo de uma pessoa infectada pelo HIV.

A nova variante já se espalhou?

Cientistas sul-africanos dizem que os primeiros sinais de laboratórios de diagnóstico sugerem que a doença se espalhou rapidamente em Gauteng e pode já estar presente em outras oito províncias do país.

A taxa de infecção diária do país quase dobrou na quinta-feira, passando para 2.465. O Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis (NICD) da África do Sul não atribuiu o crescimento à nova variante, embora cientistas locais suspeitem que seja a causa.

O Botswana detectou quatro casos, todos estrangeiros que chegaram em missão diplomática e desde então deixaram o país.

Hong Kong registrou um caso, de um viajante vindo da África do Sul. Israel também tem um caso, o de um viajante voltando do Malaui. O caso confirmado na Bélgica foi de uma pessoa não vacinada que viajou para o exterior e testou positivo no dia 22 de novembro.

A variante é relativamente fácil de distinguir em testes de PCR de Delta, a variante Covid-19 dominante e a mais infecciosa até agora. Ao contrário da Delta, ela tem uma mutação que causa um drop-out do gene S. Isso significa que uma das partes do vírus, que é identificada pelo teste PCR, não está presente nessa variante. Dessa forma, testes que vierem com um resultado onde apenas duas partes foram identificadas, em vez de três, indicariam a infecção pela nova variante.

Por que a nova variante está preocupando os cientistas?

Todos os vírus — incluindo o Sars-CoV-2, o vírus que causa a Covid-19 — mudam com o tempo. A maioria das mudanças tem pouco ou nenhum impacto em suas propriedades. No entanto, algumas alterações podem afetar a facilidade de disseminação, a gravidade ou o desempenho das vacinas contra eles.

Segundo Tulio de Oliveira, diretor do Centro para Resposta Epidêmica e Inovação, na África do Sul, a nova variante apresenta 50 mutações no total — e mais de 30 na proteína spike, o mecanimso que o vírus usa para entrar nas células e que é alvo da maioria das vacinas contra a Covid-19.

Isso é quase o dobro do número da Delta e torna essa variante substancialmente diferente do coronavírus original que as vacinas contra Covid atuais foram projetadas para neutralizar.

Cientistas sul-africanos dizem que algumas das mutações estão associadas à resistência a anticorpos neutralizantes e maior transmissibilidade, mas outras não são bem compreendidas, então seu significado total ainda não está claro.

A Conselheira Médica Chefe da Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido, Dra. Susan Hopkins, disse à rádio BBC que algumas mutações não haviam sido vistas antes, então não se sabia como elas interagiriam com as outras, tornando-se a variante mais complexa vista até agora.

Portanto, mais testes serão necessários para confirmar se é mais transmissível, infeccioso ou pode escapar das vacinas. Um porta-voz da BioNTech, parceira da Pfizer no desenvolvimento da vacina, afirmou que estão testando a eficácia do imunizante contra a nova variante e dentro de duas semanas terão uma resposta.

O trabalho levará algumas semanas, disse na quinta-feira a líder técnica da Organização Mundial da Saúde na Covid-19, Maria van Kerkhove. Nesse ínterim, as vacinas continuam sendo uma ferramenta crítica para conter o vírus.

Nenhum sintoma incomum foi relatado após a infecção com a variante B.1.1.529 e, como com outras variantes, alguns indivíduos são assintomáticos, disse o NICD da África do Sul.

O que a OMS disse sobre a nova variante?

A agência da ONU decidirá se deve ser designada uma variante de interesse ou variante de preocupação. O último rótulo seria aplicado se houver evidência de que é mais contagioso e que as vacinas não funcionam bem contra ela, e seria dado um nome grego.

A OMS identificou até agora quatro variantes “preocupantes” – Alfa, Beta, Gama e Delta.

Duas variantes de interesse são a Lambda, identificada no Peru em dezembro de 2020, e Mu, na Colômbia em janeiro.

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