
Um grupo de pesquisadores pode ter feito um importante avanço na compreensão do Alzheimer: a descoberta de uma possível ligação entre o microbioma intestinal e a doença neurodegenerativa. O estudo foi registrado na última quarta-feira (18) na revista Brain.
Participaram do estudo 69 pessoas com Alzheimer e 64 sem a doença. Os autores da pesquisa transplantaram a microbiota fecal de alguns dos indivíduos saudáveis e de pacientes com o transtorno em ratos machos jovens com depleção de microbiota.
A equipe foi liderada por um trio de pesquisadoras: Yvonne Nolan, do centro de pesquisa APC Microbiome, na Irlanda; Sandrine Thuret, do King’s College London, na Inglaterra; e Annamaria Cattaneo, do Instituto de Hospitalização e Tratamento de Natureza Científica (IRCCS Fatebenefratelli), na Itália.
O grupo notou nos ratos transplantados com a microbiota dos pacientes com Alzheimer diversas deficiências cognitivas. Mais precisamente, diferenças em comportamentos que dependem da neurogênese do hipocampo adulto, área cerebral que é responsável por certas funções de memória e humor.
O soro sanguíneo de pessoas com a doença diminuiu a neurogênese em células humanas in vitro. Com isso, os cientistas destacam que essa neurogênese do hipocampo é um “processo celular central convergente que regula a circulação sistêmica e intestinal” atrelada ao Alzheimer.
Segundo explica Nolan em comunicado, testes de memória “dependem do crescimento de novas células nervosas na região do hipocampo do cérebro”. Mas os animais que adquiriram os microrganismos transplantados das pessoas com Alzheimer produziam menos dessas células e tinham a memória prejudicada.
“As pessoas com Alzheimer costumam ser diagnosticadas no começo ou após o início dos sintomas cognitivos, o que pode ser tarde demais, pelo menos para as abordagens terapêuticas atuais”, ela considera, acrescentando que entender o papel das bactérias intestinais logo no começo pode originar terapias ou até intervenções individualizadas.
As pessoas com Alzheimer tinham mais bactérias que promovem inflamação em suas amostras fecais, segundo os pesquisadores. Isso e os demais indícios sugeriram que os sintomas da doença podem ser transferidos para um organismo jovem e saudável através da microbiota intestinal.
Thuret destaca que não há tratamento eficaz para o Alzheimer, mas o estudo pode ajudar na compreensão da doença. “Esta pesquisa colaborativa lançou as bases para futuras pesquisas nessa área, e minha esperança é de que ela leve a avanços potenciais em intervenções terapêuticas”, diz a cientista.
Fonte: Revista Galileu