
Em um estudo médico publicado nesta terça-feira (9) na revista Cureus, especialistas do Hospital Sultanah Bahiyah, na Malásia, descrevem o caso de um homem de 30 anos funcionário de um canteiro de obras que teve seu olho esquerdo e cérebro atingidos acidentalmente por um prego.
O trabalhador estava usando uma pistola de pregos pneumática sem usar óculos de proteção. Quando a ferramenta travou, ele verificou o cano em busca de falhas, e a arma disparou acidentalmente em seu olho esquerdo.
O homem chegou ao hospital com perda de visão e sangramento no olho. Ele reclamava de dor de cabeça e dor ocular, mas cooperava e estava totalmente acordado ao ser checado pelos médicos, com seus sinais estáveis.
Além de ferimentos e inchaço no olho esquerdo, os exames inicialmente não revelaram lesões adicionais. “A força muscular e a tensão de todos os quatro membros estavam normais. Suas análises sanguíneas e outros parâmetros bioquímicos estavam dentro dos limites normais”, descreveram os médicos.

O trabalhador não tinha histórico médico, cirúrgico ou de uso de drogas significativo. Ele recebeu injeção antitetânica, antibióticos por via intravenosa e medicamento anticonvulsivante.
No entanto, logo ficou claro que os danos atingiram muito mais do que o olho. Um raio-X do crânio do homem mostrou que o prego de 3,2 centímetros havia penetrado no lobo frontal do cérebro, fraturando sua órbita ocular conforme entrou na cabeça, com sinais de sangramento se estendendo para regiões cerebrais vizinhas.
O paciente passou por uma cirurgia de emergência para remover o prego. Durante o procedimento, os cirurgiões notaram que “a artéria carótida interna esquerda, as artérias cerebrais anteriores e os nervos olfativos não foram lesionados”, segundo eles relataram.
O prego foi removido em sua integridade e não houve sangramento após a remoção. Depois da cirurgia, os especialistas fizeram um exame do olho esquerdo sob anestesia, bem como uma limpeza e reparo da esclera e da pálpebra. Em seguida, o paciente foi internado na UTI, onde recebeu ceftriaxona, metronidazol e anticonvulsivantes por via intravenosa.
Pós-operatório
O homem teve que usar um curativo à prova d’água transparente que cobria o olho esquerdo com colírios e pomada de cloranfenicol. “Ele se recuperou bem durante o período pós-operatório, sem déficits neurológicos, e recebeu alta no quinto dia pós-operatório”, disseram os médicos.

Uma semana depois, uma avaliação em clínica oftalmológica mostrou melhorias no quadro, mas a visão do homem ainda não havia retornado. O paciente foi aconselhado a usar óculos de proteção para evitar traumas inadvertidos.
Os especialistas não sabem o que aconteceu disso, pois o trabalhador deixou a Malásia para continuar o tratamento em seu país de origem.
Conforme os médicos, lesões penetrantes no cérebro não são comuns, representando 0,4% das lesões na cabeça. Já as lesões cerebrais penetrantes e transorbitais (TOPI, na sigla em inglês), como a que atingiu o paciente, são ainda mais raras, correspondendo a 24% dos traumas penetrantes na cabeça em adultos e 45% em crianças.
Apesar de incomuns, as TOPIs podem causar sérias deficiências neurológicas e oftálmicas, segundo os autores do estudo. Por isso, o sujeito que sobreviveu ao acidente teve muita sorte.
O caso deve servir como um aviso sobre a importância dos procedimentos de segurança adequados no local de trabalho. “Os empregadores devem fornecer equipamento de proteção individual adequado, bem como formação adequada e demonstração sobre o manuseamento seguro das ferramentas aos trabalhadores, a fim de prevenir lesões relacionadas com o trabalho”, enfatizam os autores.