Em tempos de Ômicron, saiba como atravessar as festas de fim de ano com risco de contágio reduzido

SÃO PAULO E BRASÍLIA — Ano passado, não teve amigo oculto, Papai Noel para as crianças nem ceia farta no Natal da família da analista de recursos humanos Luciana Santos, que vive em São Paulo e costuma passar as festas no Rio. A celebração contou com poucos convidados e muita apreensão com a pandemia. Este ano, com os parentes vacinados contra a Covid-19, o plano é comemorar juntos, com a mesa cheia — mas ainda com precauções.

— Amamos Natal, e no último não pudemos nos encontrar. Foi difícil, triste. Mas este ano a família está toda vacinada com as duas doses, os mais velhos até com a terceira, então vamos nos reunir. As crianças estão na maior expectativa. Mas os cuidados continuam. Vamos manter o ambiente aberto. Distanciamento vai ser mais complicado, mas nosso combinado é que se alguém tiver qualquer espirro, sintoma de gripe ou Covid, não vai à celebração — conta Luciana.

Com o avanço da vacinação e os números da pandemia em queda, muitas famílias vão fazer neste fim de ano a tradicional e aguardada reunião que faltou em 2020. Mas ainda não será o festão que as famílias costumavam fazer em dezembro, nem aquela confraternização com convidados saindo pela janela. Ou ao menos não seria o recomendado, segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO.

Se é verdade que a imunização adicionou a dose de esperança que o ano passado ficou devendo, o surgimento de novas variantes do coronavírus, como a Ômicron, e a epidemia de influenza inspiram atenção. A boa notícia é que é possível reduzir bastante os riscos respeitando quatro pilares de proteção: vacinação, distanciamento, ventilação e uso de máscaras.

— Em comparação ao mesmo período do ano passado, hoje vivemos um melhor cenário em relação à transmissão do coronavírus. Mesmo assim, se for possível fazer confraternizações em núcleos menores, não associados a aglomerações, é o mais indicado. E de preferência em locais arejados, abertos ou se fechados, com as janelas abertas. Apesar do momento positivo da pandemia, ela ainda não acabou, e a cobertura vacinal ainda não está acima dos 80%. Ainda mais com nova variante — diz o infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz.

Mesmo com a boa cobertura da população adulta, a lacuna da imunização infantil ainda preocupa em alguns lares. Pai de Pedro, de 10 anos, e de Maria Fernanda, de 2, o servidor público João Paulo Biage, 33, conta que a celebração do Natal, que costuma reunir família e amigos em Brasília, vai se reduzir ao núcleo familiar mais próximo este ano. Já para o réveillon, a festa não tem destino definido:

— Neste ano, a gente nem sabe o que vai fazer no ano novo. O Natal, normalmente, é na casa da minha mãe e bem badalado. Dessa vez, a gente vai fazer no rancho do meu irmão, que é num local um pouquinho mais afastado. Lá é bom porque as crianças ficam livres, conseguem brincar bastante, ir ao lago…

Para pesquisador Vitor Mori, da Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, a decisão de realizar encontros nesta época do ano é muito particular. O que deve prevalecer, portanto, é uma avaliação de risco-benefício, já que muitas pessoas não estariam dispostas a renunciar a esses momentos de encontro e de comemoração.

— A gente já vê uma reabertura de praticamente tudo, as pessoas já estão indo trabalhar, tendo que ir a locais de mais risco e não me parece que tantas pessoas estão tão dispostas a abrir mão. Muita gente já abriu mão no ano passado e pretende fazer festa este ano. O que eu costumo sugerir é fazer uma avaliação de riscos versus benefícios. São duas discussões diferentes: a primeira é o debate sobre fazer, a segunda, sobre reduzir os danos, caso faça — afirmou o integrante do Observatório Covid-19 BR.

A ampliação do uso da vacina da Pfizer para a faixa etária de 5 a 11 anos, autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na última quinta-feira, trouxe esperança e alento às famílias que querem ver os pequenos logo imunizados. Porém, a expectativa esbarra na falta de previsão.

— A partir do momento em que falarem “pode vacinar”, vamos estar lá (no posto de saúde com as crianças) às 5h, 6h. Comigo e minha esposa vacinados, ficamos até mais tranquilos. Estamos bem resguardados, mas a nossa preocupação é com eles. O desconhecido assusta — diz Biage.

Confira algumas dicas para passar o fim de ano:

Ceia de Natal

O melhor presente para o encontro natalino de família este ano é estar imunizado. Com convidados que já convivem normalmente e estão vacinados, não existe, a princípio, contra-indicação para a comemoração.

– Obviamente, se alguém estranho ao ambiente for convidado, aí vale inclusive pedir o comprovante de vacinação – diz o infectologista Jamal Suleiman, do Instituto Emílio Ribas, em São Paulo.

Tarefa difícil para muitas famílias, uma maneira eficaz de controlar a transmissão em encontros caseiros para o Natal é reduzir o número de participantes. Alguns especialistas chegam a determinar um número específico de pessoas para manter o risco baixo: até dez.

– Estatisticamente, se você se reúne com mais de dez pessoas, haverá maior proximidade, as pessoas vão falar mais alto e aumenta a chance de algum dos convidados estar com gripe (ou Covid) incubada – afirma Celso Granato, diretor clínico do Grupo Fleury.

Não é preciso, porém, desistir da ceia sob o risco de infecção com vírus respiratórios. Granato explica que guardar uma distância de 1,5 metro na hora de comer já seria suficiente para amenizar bem o risco. Fora dos momentos em que se aproveita das comidas e bebidas, a máscara ainda é fundamental.

Réveillon

No ano passado, a tradutora Carolina Selvatici e o marido, o também tradutor Diego Magalhães, passaram o Reveillón de quarentena. Diego testou positivo para Covid poucos dias antes de receber a mãe e o irmão para passarem a festa em Florianópolis.

– Não tínhamos sintoma, mas acabamos cancelando tudo quando o teste dele deu positivo. Na hora dos fogos, só atravessamos a rua para a praia, que estava vazia, e voltamos para casa – lembra Carolina, que não vê a maioria dos familiares há quase dois anos. – Desta vez vamos passar o Ano Novo no Rio, em um apartamento com varanda grande. É um espaço aberto e poderemos ficar juntos. Mas seremos poucos, ainda assim.

Algumas famílias têm considerado fazer um teste e Covid previamente para dar mais segurança. Especialistas dizem que se entre os convidados houver pessoas que se expuseram, viajando, por exemplo, compensa, para não colocar em risco os demais. Uma dica importante é encontrar-se com quem também é cuidadoso para evitar o contágio do vírus.

– A regra é manter os protocolos e estar com pessoas vacinadas. Dá para fazer uma festa íntima com pessoas que seguem protocolos, isso é seguro – diz o infectologista Marcos Boulos, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Em ambientes arejados, ao lado de pessoas vacinadas e que mantiveram os protocolos de segurança, até o abraço de feliz Ano Novo pode acontecer sem muito risco.

– O parente meio negacionista é melhor deixar para outra hora – diz Boulos.

Confraternização com amigos

Infectologistas explicam que em termos de transmissão de doenças é pouco eficaz classificar “atividades proibidas”, sobretudo em um momento de controle epidemiológico de transmissão. O que há são riscos que podem ser mitigados por meio dos comportamentos corretos.

– O risco de transmissão não está presente na festa em si, mas na atitude e no comportamento (das pessoas que vão) – explica Renato Kfouri, pediatra Infectologista da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Ou seja, pessoas que admitem o risco de ir a uma confraternização podem transformar a atividade em menos arriscada ao, por exemplo, evitar contato próximo com desconhecidos e conversas sem máscara.

– Na comemoração de fim de ano com amigos em ambientes fechados, se houver uma pessoa não vacinada, o risco é imenso. A recomendação é que, se for reunir, que essa reunião ocorra onde as pessoas tenham sido educadas para seguir as orientações de não aglomeração – diz o infectologista Jamal Suleiman. – Agora, se o plano for reunir colegas de trabalho que estão esse tempo todo de maneira remota, melhor deixar para o próximo ano, quando se espera que o mundo inteiro tenha tido acesso às vacinas. E se ainda houver algum colega resistente à vacinação, mostre a ele a importância de se imunizar. Senão, nem no ano que vem ele vai poder participar de encontro algum.

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