A fascite plantar é uma condição caracterizada por um processo inflamatório ou degenerativo que impacta a fáscia plantar, também conhecida como aponeurose plantar.
Esse segundo nome corresponde a uma membrana de tecido conjuntivo fibroso e pouco elástico que envolve a musculatura da sola do pé, desde o osso calcâneo, responsável pela estrutura do calcanhar, até a base dos dedos dos pés.
Embora seja uma inflamação comum, que atinge 2 milhões de brasileiros por ano, segundo dados do Hospital Israelita A. Einstein, nem todas as pessoas conhecem suas características e sintomas.
Entenda melhor a seguir o que é, sintomas, o que causa fascite plantar e seus tratamentos.
O que é fascite plantar?
A fascite plantar é uma condição dolorosa que afeta a planta do pé, especialmente a região próxima ao calcanhar.
Caracterizada por uma inflamação na fáscia plantar, uma espessa faixa de tecido conjuntivo que conecta o calcanhar aos dedos, essa condição pode causar dor intensa e dificuldades na locomoção.
É mais comum em homens entre 40 e 70 anos anos, mas também pode afetar pessoas mais jovens, especialmente atletas e indivíduos que permanecem em pé por longos períodos.
O que causa a fascite plantar?
A fáscia é responsável por conectar o calcanhar aos dedos e proporcionar suporte ao arco do pé durante a locomoção.
Quando submetida a esforços excessivos ou de forma inadequada, a fáscia pode se inflamar, resultando na fascite plantar.
Segundo o estudo do artigo publicado na Revista Brasileira de Ortopedia por Ricardo Cardenuto Ferreira, médico ortopedista especializado em cirurgia reconstrutiva do pé e tornozelo, a causa exata dessa síndrome é desconhecida.
No entanto, isso não quer dizer que não sejam identificados fatores que podem estar envolvidos.
Alguns são:
- inflamação da fáscia plantar provocada por evento traumático que envolve forças de tração ou cisalhamento;
- avulsão da fáscia plantar;
- fratura de estresse do calcâneo;
- neuropatia compressiva dos nervos plantares;
- esporão plantar do calcâneo (crescimento anormal de um pequeno segmento do osso do calcanhar);
- atrofia senil do coxim gorduroso plantar.
Sintomas da fascite plantar
No geral, a forma como a fascite plantar se manifesta é pela dor, de início insidiosa, na face interna do calcanhar.
O médico Ricardo também explica que em raras ocasiões pode ocorrer dor intensa, com início abrupto, causada por avulsão traumática da fáscia plantar na sua inserção junto à tuberosidade calcânea.
Outro padrão dentro dos sintomas é que pela manhã costuma ser a dor maior, pois é quando a pessoa apoia o pé no solo pela primeira vez. Depois disso, ao começar a se movimentar, a dor passa a ser menos intensa.
Quando os sintomas da fascite plantar são muito fortes, não se consegue nem apoiar o peso do corpo nos calcanhares. Com isso, podem aparecer edema leve e eritema.
O tempo que esses sintomas podem ser sentidos variam entre semanas e anos. Outro ponto é que se houver encarceramento do primeiro ramo do nervo plantar lateral —nervo para o músculo abdutor do quinto dedo —, a dor segue o trajeto do nervo.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da fascite plantar costuma ser feito pelo exame físico do pé, em que o paciente vai demonstrar a sensação de dor nesse processo.
A dor pode vir tanto do porão central da fáscia plantar como representar uma inflamação do nervo abdutor do quinto dedo.
No exame, é preciso apalpar a fáscia plantar para se determinar onde está a dor e se existem e nodulações.
Quando submetida a tensão, a fáscia fica mais dolorida. Por essa razão, ela precisa ser palpada pelo profissional com os dedos e o tornozelo em dorsiflexão. O túnel do tarso, da mesma forma, também deve ser palpado.
As articulações do tornozelo e subtalar são outras partes que devem ser examinadas ativa e passivamente quanto à mobilidade.
Como apoio, o exame neurológico das porções remanescentes da extremidade e da coluna vertebral lombar podem também ser feitos pelo examinador a depender do caso.
Se houver a necessidade de verificar informações relacionadas com a estrutura óssea e o estado biomecânico do pé e do tornozelo, radiografias do pé e do tornozelo devem ser feitas.
A cintilografia óssea ainda é outro tipo de exame que pode auxiliar no diagnóstico diferencial da fratura de estresse do calcâneo em pacientes que apresentam persistência da sintomatologia dolorosa mesmo após o tratamento padrão.
Possíveis tratamentos para fascite plantar
Independentemente da forma como os sintomas se iniciam, os tratamentos para fascite plantar
geralmente seguem um padrão similar.
Para boa parte dos pacientes, o tratamento conservador — ou seja, sem a necessidade de cirurgia — se mostra eficaz para aliviar os sintomas.
Ricardo Ferreira aponta que as taxas de sucesso variam entre 73% e 89% com o tratamento conservador da fascite plantar.
Tratamento conservador
A primeira abordagem no tratamento conservador consiste em um programa domiciliar com exercícios voltados ao alongamento da fáscia plantar.
O protocolo tradicional inclui exercícios que visam tanto o alongamento quanto a contração excêntrica do tendão de Aquiles, realizados simultaneamente com exercícios específicos para estirar a fáscia plantar.
Nesse protocolo, é aplicada uma força contínua enquanto ocorre o alongamento do tendão de Aquiles e a contração excêntrica do complexo gastrocnêmio-sóleo. Além disso, também é realizado o alongamento da fáscia plantar.
Cada sessão de exercícios consiste em 10 repetições, alternando a posição dos pés (um à frente e outro atrás), com duração de 10 segundos cada.
Para obter melhores resultados, é recomendado que o paciente realize pelo menos três séries de exercícios ao longo do dia (manhã, tarde e noite) durante três a seis semanas consecutivas.
A ideia é promover a recuperação e o alívio dos sintomas da fascite plantar, proporcionando uma abordagem eficaz e não cirúrgica para a condição.
Além disso, é comum que recomende curto período de repouso acompanhado de medicamentos anti-inflamatórios não hormonais.
A revisão científica também reforça que algumas pessoas que têm jornadas de trabalho de mais de oito horas em pé podem apresentar resultados menos satisfatórios com o tratamento conservador mencionado anteriormente.
Nestes casos, a fisioterapia analgésica pode ser prescrita como terapia adicional, com sessões que incluem aplicação local de ultrassom e iontoforese.
Bota ou órtese
Se o paciente não responder adequadamente a essas abordagens, a imobilização da extremidade com uma bota gessada ou bota removível para marcha (tipo walker boot) pode ser oferecida, —com duração de aproximadamente seis a oito semanas.
Para alguns pacientes que não encontram alívio satisfatório dos sintomas dolorosos com o tratamento conservador, a órtese noturna pode ser benéfica.
Essa abordagem visa manter a fáscia plantar alongada durante todo o período de repouso noturno, posicionando o tornozelo em dorsiflexão enquanto o paciente dorme.
Infiltração com esteroides
Uma outra opção de tratamento é a infiltração com esteroides. Ela pode ocasionalmente proporcionar alívio temporário da dor em muitos pacientes que sofrem de fascite plantar.
No entanto, é importante ter cautela com o uso indiscriminado desse tratamento, pois ele pode levar a complicações, como a ruptura da fáscia plantar e o sério risco de lesão permanente no coxim gorduroso plantar, resultando em substituição fibrosa e atrofia — o que piora o quadro.
Por esse motivo, os benefícios da infiltração de corticosteróides em pacientes com fascite plantar são controversos e requerem uma avaliação cuidadosa dos riscos e benefícios antes de serem considerados como uma opção terapêutica.
Dica para aliviar as dores crônicas nos pés
Além da fascite plantar, existem outros tipos de dores crônicas que também fazem com que as pessoas sintam dores nos pés.
Os exercícios de mobilidade podem ser uma boa solução para isso. A seguir, veja algumas das dicas dadas pela especialista em fitness Stephanie Mansour.
Nota importante: antes de iniciar, é preciso consultar um médico e, se sentir dor, pare imediatamente.
Exercício 1: flexione o pé e aponte
Endireite uma perna e flexione o pé para cima, aproximando os dedos dos pés em direção à canela.
Mantenha essa posição por cinco segundos e, em seguida, aponte os dedos para estender a parte superior do pé. Segure por mais cinco segundos. Repita essa sequência de movimentos cinco vezes e, em seguida, alterne para o outro pé.
Exercício 2: flexione e estenda os pés
Neste exercício, realizaremos um movimento aprimorado do exercício anterior. Comece flexionando um pé para cima e segure por cinco segundos.
Em vez de retornar à extensão imediatamente, prossiga com a flexão, conduzindo o pé para a frente com a bola do pé.
Em seguida, aponte os dedos dos pés para frente e segure por mais cinco segundos.Para retornar à posição de flexão, solte primeiramente os dedos dos pés e, em seguida, flexione o tornozelo. Repita esse padrão cinco vezes e, em seguida, alterne para o outro pé.
Exercício 3: faça círculos de relógio
Para realizar este exercício, sente-se ou deite-se e flexione um pé para cima, criando a posição das 12 horas.
Em seguida, gire o tornozelo externamente, apontando o pé para a direita e movendo-se em direção à posição das 1 hora no relógio.
Continue seguindo o movimento dos ponteiros do relógio para a direita até apontar o pé para baixo, às 6 horas.
Em seguida, inicie a rotação interna para apontar o pé para a esquerda e volte à posição das 7 horas, seguindo até chegar novamente à posição flexionada das 12 horas.
Repita esse ciclo cinco vezes e, em seguida, faça mais cinco rotações no sentido oposto aos ponteiros do relógio. Após completar as séries, troque de pé.
Exercício 4: rotacione o tornozelo
Para realizar este exercício, estenda uma perna à frente do seu corpo. Em seguida, gire o pé externamente para o lado e segure essa posição por cinco segundos.
Em seguida, gire o pé internamente, na direção oposta à linha média do seu corpo, e mantenha essa posição por mais cinco segundos.
Repita esse movimento algumas vezes e, depois, alterne para a outra perna. Pratique-o com calma para obter melhores resultados.
Exercício 5: escolha os seus dedos do pé
Comece relaxando ambos os pés. Em seguida, imagine que está tentando enrolar um pedaço de pano no chão e pegá-lo com os seus pés.
Enrole bem os 10 dedos dos pés e segure essa posição por cinco segundos. Em seguida, solte e relaxe os pés. Repita esse exercício por 10 vezes.
Pratique essa rotina diariamente ou algumas vezes por semana para soltar e fortalecer seus pés, tornozelos e músculos da panturrilha. Lembre-se de realizar esses alongamentos com calma e sem pressa.
Fonte: CNN Saúde