Entenda por que o lubrificante é uma estratégia de saúde e prevenção de doenças

A compra pelo governo da Argentina de gel lubrificante para distribuição à população causou polêmica nesta semana.

O investimento de dinheiro público, que pode chegar a R$ 15 milhões, repercutiu na imprensa internacional e ganhou as redes sociais com questionamentos acerca da necessidade do item.

No Brasil, lubrificantes íntimos são distribuídos gratuitamente em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS).

A medida, que tem como base evidências científicas, é considerada uma estratégia de saúde pública para a redução da incidência de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).

Uso de lubrificante

O médico infectologista Álvaro Furtado, do Hospital das Clínicas de São Paulo, afirma que embora o tema seja tratado de maneira leviana, o lubrificante íntimo cumpre um papel relevante como medida complementar de proteção à saúde sexual.

“O lubrificante é algo pouco discutido com relação ao painel de prevenção das ISTs, por que se tem a falsa ideia de que ele é algo acessório, que não é importante dentro de prevenção e um mero artefato durante a atividade sexual e na verdade não é isso”, diz Furtado.

O especialista explica que a atividade sexual está associada ao atrito e pode provocar traumas na região genital e anal.

“Quando se usa lubrificante, você deixa a mucosa que está hidratada e lubrificada menos suscetível a esse tipo de complicação da atividade sexual. Você acaba diminuindo a penetração de alguns patógenos [agentes causadores de doenças] na mucosa genital e anal”, afirma o infectologista.

Em publicação no Twitter, o ministro da Saúde de Buenos Aires Nicolás Kreplak afirmou que o investimento faz parte das ações da pasta em cumprimento à legislação.

“Estamos gerindo, cumprindo a lei e cuidando da nossa população. A aquisição de itens de prevenção e cuidados com a saúde sexual não é novidade. Sempre foi feito e todos os insumos têm que ser fornecidos pelo Estado. Nada surpreende. Eles desinformam e confundem”, disse Kreplak.

A subsecretária de gestão da informação do Ministério da Saúde de Buenos Aires, Leticia Ceriani, afirmou em publicação no Twitter, que a compra implica uma política inclusiva para garantir o acesso a todas as pessoas ao item.

“O gel lubrificante diminui a ruptura do preservativo, resultando em uma política de prevenção de ISTs e gravidez não planejada. O gel íntimo também foi adquirido na administração anterior, a única coisa que mudaria com esta compra é a apresentação, pois agora é entregue individualmente para otimizar o uso e o investimento”, disse Leticia.

Prevenção combinada

O uso simultâneo de diferentes abordagens, considerando aspectos biomédicos, comportamentais e estruturais, caracteriza a chamada prevenção combinada às infecções sexualmente transmissíveis.

De acordo com o conceito, a estratégia de prevenção pode ser mais eficaz quando adotada com base nas características específicas do momento de vida de cada pessoa.

As intervenções biomédicas são ações voltadas à redução do risco de exposição às ISTs, que podem ser divididas em barreiras físicas e medicamentosas. Como exemplo do primeiro grupo, tem-se a distribuição de preservativos masculinos e femininos e de gel lubrificante. Já os exemplos do segundo grupo incluem a profilaxia pós-exposição (PEP) e a profilaxia pré-exposição (PrEP) – específicas contra o HIV.

As intervenções comportamentais, por sua vez, são ações que contribuem para o aumento da informação e da percepção do risco de exposição, visando a redução. Incluindo incentivos a mudanças de comportamento da pessoa e da comunidade ou grupo social em que ela está inserida.

Como exemplos, podem ser citados o incentivo ao uso de preservativos masculinos e femininos; aconselhamento sobre HIV/Aids e outras ISTs; incentivo à testagem; adesão às intervenções biomédicas; vinculação e retenção nos serviços de saúde; redução de danos para as pessoas que usam álcool e outras drogas, além de estratégias de comunicação e educação entre pares.

“Então, é fundamental você mesclar dentro do seu painel de prevenção, além do que a gente já tem disponível, o uso de lubrificantes. Eles são distribuídos gratuitamente pelo SUS, como uma medida de saúde pública por que você consegue diminuir a incidência de novos casos de ISTs”, conclui Furtado.

As intervenções estruturais são ações voltadas aos fatores e condições socioculturais que influenciam diretamente a vulnerabilidade de indivíduos ou grupos sociais específicos, envolvendo preconceito, estigma, discriminação ou qualquer outra forma de alienação dos direitos e garantias fundamentais à dignidade humana.

Entre os exemplos, estão ações de enfrentamento ao racismo, sexismo, LGBTfobia e demais preconceitos; promoção e defesa dos direitos humanos; campanhas educativas e de conscientização.

Fonte: Lucas Rocha, CNN

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