
Nas últimas semanas, um anúncio tem chamado a atenção nas redes sociais. Um cigarro eletrônico, também conhecido como vape ou pod, que seria feito sem nicotina e com a adição de vitaminas, o que o tornaria benéfico para a saúde e indicado até mesmo para acompanhar atividades físicas. A premissa, no entanto, não tem qualquer evidência científica, e os produtos são proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil.
A empresa responsável pelos anúncios, Iz Health, excluiu a conta na maioria das redes sociais. No Youtube, porém, ainda é possível encontrar vídeos publicitários sobre os dispositivos – peças ilegais no país. “Os pods IZ são concentrados vitamínicos elaborados para o dia a dia, nos quais não há adição de nicotina e a absorção de nutrientes é feita pela mucosa e na inalação do vapor produzido a baixa temperatura, ou seja, diversos benefícios em um único produto”, diz a empresa na propaganda.
Os produtos também são facilmente encontrados ilegalmente em sites de varejo online, com preços que giram em torno de R$ 55. São seis opções que carregam, além de vitaminas, colágeno, camomila e até mesmo hormônios, no caso da melatonina. Cada um seria apropriado para um momento: relaxar, para dar energia, rejuvenescer e até mesmo aumentar a resposta imune.
Não há, no entanto, qualquer evidência científica que apoie as promessas feitas pela Iz Health. Muito pelo contrário, especialistas chamam atenção para os riscos dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEF), ainda que não carreguem nicotina, os perigos na inalação de vitaminas e hormônios sem indicação médica e a irregularidade dos produtos no país.
Desde 2009, qualquer DEF, como os pods facilmente encontrados em bancas de jornal e tabacarias pelo país, tem a importação, a venda e a propaganda proibidos pela Anvisa. Logo, por mais que tenham se popularizado nos últimos anos, o comércio é ilegal e os dispositivos contrabandeados não passam por uma avaliação sanitária. Isso quer dizer que não há como saber exatamente todas as substâncias presentes.
Em 2022, a agência chegou a reavaliar a decisão à luz das evidências mais recentes e de pedidos para que os produtos fossem regulamentados no Brasil, citando o aumento no contrabando e justamente a falta de uma régua sanitária para os dispositivos que circulam no país. No entanto, os especialistas da Anvisa decidiram pela manutenção da proibição devido aos riscos elevados para a saúde nos vapes.

‘Vape de vitaminas’ viralizou nas redes, mas não é permitido e traz riscos. — Foto: Reprodução / Youtube
Em nota recente, publicada após os anúncios do “vape saudável” terem viralizado, a agência esclarece que os cigarros eletrônicos são proibidos “independentemente de sua composição e finalidade”.
“Em relação aos suplementos alimentares, a regra não é diferente. A apresentação de vitaminas e outros alimentos oferecidos na forma de dispositivos eletrônicos para fumar é proibida, considerando que o próprio dispositivo não é permitido e que suplementos alimentares são produtos de ingestão oral. Recente veiculação em mídias sociais apresenta um produto que supostamente teria esta função, mas sem qualquer tipo de comprovação ou regularização no país”, alerta o co
municado.
Além de não haver comprovação de que o produto realmente seja feito sem nicotina e à base de vitaminas, não existem evidências de que as substâncias benéficas de fato conseguem chegar ao organismo por meio da inalação. Por isso, quando indicadas pelo médico, são ingeridas por meio de cápsulas, comprimidos, líquidos, gomas, entre outros.
Outro ponto que traz riscos no uso do produto é pelo fato de a nicotina não ser a única substância encontrada no cigarro eletrônico que traz danos à saúde. Análises já encontraram metais como níquel, que é cancerígeno, latão e cobre nos dispositivos.
Um dos maiores riscos conhecidos é a chamada “evali”, lesão pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônicos, descrita pela primeira vez nos Estados Unidos. Acredita-se que a causa seja ligada a determinados solventes e aditivos utilizados nos produtos, que provocariam uma reação inflamatória no órgão.
“Já existem dados sobre os efeitos de curto prazo do uso do cigarro eletrônico: diminuição da função pulmonar, maior risco de eventos cardiovasculares, como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e aumento do risco de crise anginosa, além de danos ao sistema imunológico. Há relatos, ainda, de maior incidência de convulsões entre os adolescentes usuários”, relata posicionamento da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) sobre o tema.
A preocupação com os jovens é pelo fato de a nova modalidade de fumo, que conta com a adição de sabores e um desconforto menor na hora de tragar – já que não envolve a combustão – conquistar principalmente os mais novos. No Brasil, um levantamento da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), parte do Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia (Covitel), entrevistou mais de nove mil jovens de 18 a 24 anos e mostrou que um a cada cinco já utilizaram o produto.
Fonte: O Globo