Infecção pela Ômicron em janeiro não protege contra versão atual

Os anticorpos gerados pela infecção com a  versão original da Ômicron – BA.1, responsável pela onda da Covid-19 em janeiro – não protegem contra as subvariantes BA.4 e BA.5, que se tornam prevalentes no Brasil. A conclusão é de um estudo de pesquisadores da Universidade Peking, de Pequim, na China, publicado nesta sexta-feira na revista científica Nature.

Segundo análise do Instituto Todos pela Saúde (ITpS), feita com dados dos laboratórios Dasa e DB Molecular, a proporção de casos prováveis da BA.4 e BA.5 no país passou de 10,4% para 44%. As demais amostras são da sublinhagem BA.2. Ao mesmo tempo, a positividade da Covid-19 – percentual dos testes com resultado positivo – subiu de 23,6% para 42,3%.

“O aumento em pouco tempo mostra que essas variantes são mais transmissíveis, porque são capazes de superar a variante que então predominava, no caso a Ômicron BA.2. O fato inédito é que as variantes BA.4 e BA.5 são derivadas de BA.2, e essa é a primeira vez que está acontecendo isso na pandemia: uma VOC (variante de preocupação) derivada de uma VOC antecessora causando uma nova onda. Até então isso não havia acontecido. As ondas anteriores foram causadas por VOCs que não se originaram das anteriores”, disse José Eduardo Levi, virologista da Dasa.

O ITpS alertou, no entanto, que o impacto das versões atuais da doença tendem a ser inferiores aos da onda de janeiro, provocada pela BA.1, devido à cobertura vacinal, que ainda se espera que proteja contra as formas mais graves da Covid-19.

Em maio, um estudo de cientistas da África do Sul, primeiro local a identificar as novas sublinhagens, já havia considerado a capacidade de elas driblarem os anticorpos de infecções anteriores da Covid-19, porém com menor capacidade de prosperar no sangue de pessoas vacinadas.

Além da habilidade das novas subvariantes para escapar da imunidade, outro motivo para a alta taxa de reinfecção é a própria resposta gerada pela BA.1. Segundo um estudo conduzido por pesquisadores da Imperial College em Londres, na Inglaterra, publicado na revista Science, a infecção por Ômicron forneceu um impulso imunológico contra variantes anteriores (Alfa, Beta, Gamma, Delta e a cepa ancestral original), mas pouca eficácia contra a própria Ômicron.

Reinfecção pela BA.4 e BA.5

No novo estudo chinês, pesquisadores analisaram a resposta dos anticorpos gerados pela BA.1, com e sem vacinação, para combater a BA.4, BA.5 e a BA.2.12.1 – esta última predominante nos Estados Unidos. Eles constataram que as mutações presentes nas novas subvariantes conseguem escapar da proteção e, portanto, provocar novas infecções.

“Ao contrário de quando a Ômicron apareceu pela primeira vez, agora as sublinhagens da Ômicron podem ter como alvo a imunidade humoral induzida pela própria Ômicron, como a infecção pós-vacinação. (…) Esses fenômenos representam um grande desafio para a imunidade coletiva atualmente estabelecida através da vacinação e da infecção pela BA.1 e BA.2. Da mesma forma, também sugerem que a vacina baseada na Ômicron BA.1 (atualmente em desenvolvimento pela Pfizer e pela Moderna) pode não ser o antígeno ideal para induzir proteção de amplo espectro contra as sublinhagens emergentes da Ômicron”, escreveram os pesquisadores chineses.

Neste mês, a Moderna, farmacêutica responsável por uma das vacinas contra a Covid-19 aplicadas no mundo, anunciou que a versão específica do imunizante em desenvolvimento para a Ômicron induziu oito vezes mais anticorpos contra a variante que o reforço com a formulação atual. O CEO do laboratório, Stéphane Bancel, disse esperar que, em setembro, a nova aplicação já esteja disponível. Porém, a nova vacina é baseada na BA.1, o que os cientistas chineses acreditam poder limitar a proteção contra as novas sublinhagens.

Infecção mais sintomática

Além disso, dados preliminares de um estudo conduzido por cientistas da Universidade de Tóquio, no Japão, ainda não revisado por pares, mostram que as subvariantes BA.4, BA.5 e BA.2.12.1 podem ter recuperado a capacidade de infectar células do pulmão, tornando-as mais patogênicas e semelhantes às variantes iniciais da Covid-19, como a Delta.

Os cientistas consideram que a BA.1 e a BA.2 – subvariantes iniciais da Ômicron – provocam um quadro mais leve por infectar as vias respiratórias superiores, em vez do pulmão. Os resultados do estudo japonês indicam que a BA.4 e BA.5 podem não ter mais esse comportamento e gerar quadros mais severos de sintomas.

No entanto, os especialistas ressaltam que a vacinação ainda é capaz de prevenir os casos mais graves e os óbitos pela doença. Por isso, acreditam que, embora consiga escapar da imunidade anterior e provocar infecções mais graves, as novas sublinhagens não devem impactar tanto os sistemas de saúde como as ondas anteriores da Covid-19 ou representar uma ameaça tão grande aos imunizados.

Fonte: Portal ig Saúde

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