
A infertilidade masculina afeta cerca de 10% dos homens nos Estados Unidos – e 7% de toda a população masculina global, segundo estimativa citada em estudo de 2022. Uma das formas mais gravas e comuns desse problema é conhecida como azoospermia não obstrutiva, que implica na ausência de espermatozoides na ejaculação.
Embora a tecnologia tenha se desenvolvido durante as últimas cinco décadas, a extração de esperma de homens com essa condição pode levar até 10 horas na sala de cirurgia e tem taxas variáveis de sucesso. Essa dificuldade motivou pesquisadores canadenses a criar novos métodos para diagnosticar o problema de saúde e procurar por gametas masculinos intactos e funcionais no sêmen de pacientes com azoospermia não obstrutiva. Os achados foram publicados na edição mais recente do periódico Molecular & Cellular Proteomics.
“Os testes que mostram a presença ou ausência de espermatozoides intactos no sêmen podem dar uma boa pista do número total de espermatozoides no paciente”, comenta, em nota, um dos autores do estudo, Andrei P. Drabovich, da Universidade de Alberta (Canadá).
Segundo o pesquisador, se a ejaculação tiver espermatozoides intactos, esse é um sinal verde para o urologista e o cirurgião prosseguirem com o procedimento de extração do esperma. No entanto, encontrar espermatozoides intactos nos detritos da ejaculação ainda é um desafio extremo.
Para o estudo, o time de pesquisadores realizou uma espectrometria de massa – uma técnica para detectar e identificar moléculas de interesse – no sêmen de homens com fertilidade normal e com azoospermia não obstrutiva. Ao todo, 45 proteínas de células germinativas foram medidas em espermatozoides e plasma seminal.
Com a técnica, a equipe identificou duas proteínas encontradas no esperma intacto de homens com o problema de infertilidade: a AKAP4 e ASPX. Segundo o artigo, o time analisou imagens das proteínas em cada célula para entender onde elas ficavam localizadas nos espermatozoides.
Outra técnica utilizada foi a microscopia de imunofluorescência de células espermáticas e tecidos testiculares, que possibilitou a visualização da ASPX na cabeça do esperma e a AKAP4 na cauda. Essas proteínas podem servir como marcadores de gametas saudáveis em homens com azoospermia não obstrutiva – uma identificação que facilita processos de inseminação com óvulos.

Microscopia de imunofluorescência de células espermáticas e tecidos testiculares. AKAP4 é mostrado em verde, ASPX em vermelho e núcleos celulares em azul — Foto: ZHANG ET AL., MOLECULAR & CELLULAR PROTEOMICS
Depois de observar essas amostras, os pesquisadores usaram algoritmos computacionais para explorar milhões de imagens de detritos celulares e esperma subdesenvolvido. O objetivo era identificar espermatozoides intactos.
Drabovich reconhece que os papéis da AKAP4 e da ASPX não são totalmente compreendidos, e, por isso, destaca a necessidade de estudá-las mais a fundo. Porém, o pesquisador se sente otimista quanto à possibilidade da descoberta ajudar no desenvolvimento de novos anticoncepcionais.
“Queremos ver se podemos inverter a história e tentar trabalhar com contraceptivos masculinos”, ele afirmou. “Se conhecermos a função da proteína, poderemos inibi-la para criar um anticoncepcional masculino não hormonal, que é um tipo de medicamento muito desejado no momento.”
Fonte: Revista Galileu