Os avanços na ciência que agora permitem mulheres e homens terem filhos saudáveis depois dos 50 anos

Nesta segunda-feira, a atriz Claudia Raia, de 55 anos, usou as redes sociais para anunciar que está grávida de seu terceiro filho. A gestação pegou de surpresa não apenas os fãs da artista, como a própria Claudia. O espanto é pelo fato de ser incomum uma gravidez nessa faixa etária, quando a capacidade reprodutiva feminina é baixíssima. Não há dúvidas de que sem os avanços na ciência, essa condição seria praticamente impensável há poucos anos. Mas uma pergunta importante se impõe: ainda há riscos para uma gestação próxima da menopausa? A mesma ciência responde: sim e não apenas para mulheres. Os homens também mudam com o avançar da idade. Especialistas afirmam que pais que decidem ter filhos após os 50 anos tem maior risco de ter bebês com alterações cromossômicas, prematuros, com autismo e doenças psicológicas.

 

Nas mulheres, as limitações relacionadas ao processo de se gerar um filho são causadas principalmente pelo número limitado de óvulos que elas carregam durante a vida e pelas alterações na liberação dos hormônios reprodutivos. A mulher já nasce com a quantidade de folículos, células que vão desenvolver os gametas femininos pré-estabelecida — entre 300 mil e 500 mil — que são liberados a cada novo ciclo menstrual desde a puberdade até entrar na menopausa, geralmente entre os 44 e 55 anos, onde concentrações dos hormônios femininos, estrogênio e progesterona, caem de forma irreversível.

Os homens têm uma produção ilimitada de espermatozoides a partir da puberdade e continua durante toda a vida — com uma nova safra a cada 74 dias em média. Mas apesar dessa produção inesgotável, com o passar dos anos, essas inúmeras divisões enfraquecem a qualidade do espermatozoide, principalmente depois dos 45 anos e piora drasticamente com 50 anos, aumentando progressivamente.

— Os homens com o tempo passam a ter uma capacidade de reprodução muito menor, além do encurtamento do telômero, estrutura do DNA que diminui e envelhece a cada divisão celular, o que resulta em erros no número de cromossomos ideias para a fecundação e uma piora na qualidade dos espermas do homem — diz Edson Borges, especialista em Medicina Reprodutiva e diretor cientifico do Fertility Medical Group, em São Paulo.

 

Quanto mais divisões celulares o espermatozoide estiver enfrentado, ou seja, quanto mais idade o pai tiver, maior é o risco. Além de alterações genéticas, defeitos congênitos que podem levar a uma série de síndromes, como Down, a probabilidade do bebê nascer prematuro (quando ela vem ao mundo antes de 37 semanas de gestação e alta.

Um estudo feito pela Escola de Medicina da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, analisou dados de mais de 40 milhões de partos e foi além ao descobrir que homens com filhos após os 35 anos correm um risco relativamente mais alto de ter um bebê com baixo peso e de sofrer de convulsões. E naqueles que já passaram de 50 anos, há um risco 28% mais elevado de o recém-nascido precisar ficar internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal.

— Quando se é jovem, o normal de ejaculação fica em torno de 2 a 5 milímetros, porém, em homens acima dos 50 anos há uma redução de 0,6 a 0,8 milímetros, parece pouco, mas equivale a quase 20% do volume. Essa diminuição vai se acentuando conforme o tempo passa. A expectativa é que para cada ano a mais da meia idade é que reduza em 0,15% a 0,5% — explica Alfredo Canalini, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia.

 

Com a mulher não é muito diferente. O risco de abortamento de gestantes com mais de 50 anos é, em média, de 50%. A gestação após esta idade também traz maiores riscos de hipertensão, pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, tireoide, partos prematuros, problemas genéticos ao bebê e riscos à mãe.

Avanços da medicina

 

Os avanços recentes na ciência têm permitido driblar grande parte dos problemas. O especialista em Medicina Reprodutiva, Edson Borges, lembra, por exemplo, que apesar do espermograma ser eficiente para saber se a pessoa tem maior ou menor probabilidade de engravidar, ele não revela a qualidade genética do esperma, ou seja, se vai trazer maiores ou menores chances de trazer alterações genéticas ligadas a idade. Neste caso, porém, há um teste que os homens podem fazer, chamado de fragmentação do DNA espermático – trata-se de um exame que mostra uma porcentagem de fragmentação dos espermas, ou seja, se o resultado for acima do normal, é porque o esperma não está saudável e precisa ser iniciado um tratamento antes de tentar engravidar, de modo natural ou por reprodução assistida.

— Os tratamentos são variados e depende do perfil do paciente e do resultado do exame. Podemos entrar com dosagens hormonais para estimular a produção de espermas, dar antibióticos ou anti-inflamatórios para ter uma condição melhor de fecundação, suplementos, vitaminas, uma dieta alimentar específica— explica Karla Giusti Zacharias, especialista em reprodução humana e integra o corpo clínico da Rede D’Or – Hospital São Luiz Itaim, em São Paulo.

 

 

A adoção de um estilo de vida saudável prolongam a vida útil dos órgãos reprodutivos. Uma das maiores causas de complicações durante a gravidez é a pressão alta desenvolvida na gestação — que agora é acompanhada nos detalhes. Entre as parturientes acima de 40 anos, a incidência pode ultrapassar os 20%, se não houver cuidados prévios. Entre as mais jovens, é de menos de 5%.

— Praticar exercícios físicos, não exagerar no álcool, ter uma alimentação balanceada estão entre as ações que garantem uma maior prevenção de riscos — diz Canalini.

Especialistas ouvidos pelo GLOBO recomendam que o melhor que se pode fazer é ter filhos em idades mais baixas para prevenir os riscos, porém, o congelamento de sêmen e óvulos, apesar de ser um tratamento com custo elevado, também é uma ótima alternativa para a paternidade em idades mais avançadas.

 

 

Claudia Raia, por exemplo, apesar de não ter especificado se gravidez foi espontânea ou se foi realizado um procedimento de fertilização, congelou seus óvulos aos 50 anos, data considerada o limite para realizar o tratamento.

Casos de sucesso

 

Entre as mamães, a atriz Solange Souto deu à luz ao seu terceiro filho, Benjamim Andrade, aos 55 anos. Ele nasceu por meio de uma cesariana após 39 semanas de gestação. Ela revelou ter feito tratamento hormonal para emagrecer e que acabou engravidando por conta disso.

Entre os pais, o apresentador Roberto Justus é um exemplo de que levar uma vida saudável, sem vícios e excessos pode resultar em bons frutos. Ele tinha 65 anos quando teve sua quinta filha, Vicky, 2 anos, a primeira com a atual mulher Ana Paula Siebert, 34. A criança foi concebida de forma natural e nasceu saudável. Antes da gravidez, Justus fez um espermograma para saber se seus espermatozoides também estavam em forma para a fecundação.

— Eu não pensava mais em ter filhos, mas era o grande sonho da minha mulher e eu não tinha como privá-la desse sonho. A gente tinha essa preocupação e esse receio por eu ter mais idade, mas eu sempre cuidei muito bem do meu organismo. Não bebo, não fumo, não uso drogas, e não é como se eu tivesse parado, é que eu nunca usei mesmo. Meus exames mostram que é como se eu tivesse um organismo de uma pessoa com 20 anos a menos. Isso com certeza foi um diferencial — diz Justus ao GLOBO.

Justus diz que consegue administrar melhor o seu tempo com a filha Vicky — Foto: Reprodução/ Instagram

O apresentador diz que, diferente dos outros quatro filhos, no qual precisou se esforçar em dobro para poder acompanhar o crescimento de cada um em meio a carreira profissional, com Vicky está sendo diferente, pois ele consegue administrar o seu tempo para levá-la para passear e passar uma boa parte de seu período com ela.

— É uma energia renovada ter uma criança em casa correndo e brincando. Eu tenho quatro netos, e por ela ter a idade deles, a gente acaba criando um ambiente amigável entre toda a família, vamos viajar e fazer passeios juntos. Acabo me sentindo mais jovem. Eu não teria a mesma energia e motivação sem ela. Agora, o objetivo é entrar andando no casamento dela e da Rafinha — diz ao GLOBO.

Outro caso de sucesso é o do ator Edson Celulari, pai da Chiara, 5 meses, aos 63 anos. Foi depois de vencer um linfoma não-Hodgkin, um tipo de câncer que tem origem no sistema linfático, que o artista resolveu pensar na paternidade novamente. Ele já é pai de Enzo, 25 anos, e Sofia, 19, frutos de seu relacionamento com Claudia Raia.

— É algo natural. A gente começa a namorar de novo, vai morar junto, se casa e acaba pensando em ter frutos desse relacionamento. Foi o que aconteceu comigo e com a Karin (Roepke, atriz e atual mulher de Celulari) — diz.

No caso do ator foi um pouco mais complicado, pois em razão das dezenas de sessões de quimioterapia e radioterapia que foi submetido, ele precisou esperar quatro anos para que seus espermatozoides estivessem saudáveis novamente a ponto de tentar uma gravidez. Assim como Justus, Celulari também fez um espermograma no intuito de saber se já estava sadio e forte o suficiente para realizar uma fecundação de forma natural sem a ajuda de inseminação artificial.

— A partir de uma cerda idade, você começa a perder coisas naturalmente. Hoje aos 64 anos, se eu resolver saltar de paraquedas, por exemplo, tenho que fazer exames e saber se meu corpo está bem e preparado para aquilo, ou se vou expor ele a um perigo iminente. A medicina avançada está aí e eu sou muito a favor dela, precisamos agarrá-la e usá-la ao nosso favor para nos ajudar a ter uma qualidade de vida melhor — afirma o artista que, até o momento, não pensa em ter mais filhos.

Fonte- O Globo

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