Pacientes sem vacinação completa são a maioria dos internados por Covid-19 em hospitais de ao menos cinco estados

SÃO PAULO — Um levantamento realizado pelo GLOBO junto aos estados e capitais, somados ao Distrito Federal, mostrou que, em ao menos cinco estados, a cada dez hospitalizados por Covid-19, oito não haviam completado o esquema vacinal ou estavam totalmente desprotegidos. Capitais de outras três unidades da federação têm entre sete e nove pacientes sem imunização a cada dez internados.

Os dados oferecidos pelos estados seguem diferentes métodos de análise: no Amazonas (onde 84,6% dos internados não tinham a imunização completa ou nem ao menos iniciada), os dados são do dia 19 de outubro. Já em Minas Gerais (85,1%), avalia-se todo o período até 26 de outubro. Na Paraíba (86,3%), também utilizam-se dados de todo o ano de 2021, assim como no Tocantins (85,7%). Já Pernambuco tem somente dados de julho (89,6%).

Há estados que registram médias ligeiramente inferiores: no Rio Grande do Norte, Maranhão, além do Distrito Federal, por volta de 60% não tinham iniciado ou concluído a vacinação.

Impacto dos não vacinados nas redes hospitalares Foto: Levantamento O GLOBO
Impacto dos não vacinados nas redes hospitalares Foto: Levantamento O GLOBO

Entre as capitais, a que indica maior relevância da vacinação entre os hospitalizados é o Rio de Janeiro: 94% dos internados atualmente na rede do município estão sem esquema vacinal completo ou nenhuma dose do imunizante. Já em Curitiba, 91% das internações até a terceira semana do mês ocorreram entre não imunizados. Em Cuiabá, entre setembro e outubro, 76% dos internados por Covid estavam sem vacinação. Enquanto em Recife 64,2% dos internados estavam sem registro de nenhuma dose ou tinham esquema vacinal incompleto.

Nos estados sem dados que relacionem internações e imunização, hospitais de referência indicam a influência da vacinação. No Moinhos de Vento, em Porto Alegre, 35% dos internados por Covid não tinham sido vacinados, ou não informaram. E 5% só tinham tomado uma dose. Os números mais baixos de não vacinados internados, em relação a outras regiões, lembram também que, apesar da redução expressiva no número de internações e óbitos com o avanço da vacinação, o imunizante não zera o risco de hospitalização. Idade e doenças preexistentes também devem ser considerados.

— A vacina reduz a incidência de formas graves. Porém, um percentual pequeno de pacientes, especialmente com comorbidades e idosos, pode necessitar internação — diz a intensivista Juçara Gasparetto Maccari, gerente médica do Moinhos de Vento.

Na cidade de São Paulo, o cenário é parecido: 24% dos internados não têm esquema completo, segundo a Secretaria Municipal da Saúde. Dados da Secretaria de Saúde de Campo Grande (MS) vão no mesmo sentido. Cerca de 60% dos pacientes que morreram em decorrência da Covid em setembro e outubro tinham recebido uma ou duas doses de vacina. Mas a idade da grande maioria das vítimas — 61 anos ou mais — justifica a necessidade da dose de reforço, afirma a pasta.

Embora conhecer o perfil vacinal de quem hoje ocupa os leitos de hospital tenha grande importância ao acompanhar os desdobramentos da doença, muitos estados não dispõem de informações sobre o tema em suas secretarias de Saúde. Pelo menos São Paulo, Bahia, Roraima e Rio Grande do Sul não têm base de dados que ofereça essas informações aos gestores locais. Assim como as capitais Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Rio Branco e Salvador.

Há a justificativa de que o preenchimento de informações sobre a vacinação dos internados em sistemas informatizados do Ministério da Saúde não é obrigatório. O que leva alguns gestores de saúde a não informarem a situação dos pacientes.

— Uma das grandes dificuldades que temos é que esses dados olham para o retrovisor. Sabemos como estavam as coisas no mês passado, há 40 dias, mas não em tempo real. O que na tomada de decisão é muito ruim — diz Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim). — Todas as informações no manejo de uma pandemia são úteis.

Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde afirmou que se trata de um levantamento complexo, e que um estudo nacional ainda está em elaboração.

Cenário internacional

Não é só no Brasil que o impacto dos não vacinados no sistema de saúde é grande. O Ministério da Saúde de Israel, por exemplo, divulgou a prevalência dos que não receberam as agulhadas em dados de mortes e internações no último mês de setembro. Neles, é possível observar que 75% dos mortos por Covid-19 com menos de 60 anos não foram vacinados. Além disso, o governo ainda mostra que 82% dos pacientes hospitalizados em estado grave com menos de 60 anos não foram vacinados.

Outro levantamento, feito pelo departamento de saúde da Pensilvânia, nos EUA, mostra que os não totalmente vacinados representam 95% das internações e 97% das mortes, quando estende-se a lupa entre o período de janeiro a setembro deste ano.

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