
À medida que envelhecem, os homens apresentam uma perda dos cromossomos Y em algumas células. E essa perda dificulta a capacidade do corpo de combater o câncer, de acordo com uma pesquisa do Cedars-Sinai Cancer, nos Estados Unidos, publicada nesta quarta-feira (21) na revista Nature.
A falta do cromossomo Y também tem sido associada a doenças cardíacas e Alzheimer, mas não havia nenhum estudo que confirmasse ou ligasse diretamente essa perda com a ocorrência do câncer. Agora, evidências apontam que esse cromossomo ajuda as células cancerígenas a escaparem do sistema imunológico.
Esse impacto comum do processo de envelhecimento nos homens resulta em câncer de bexiga agressivo, mas de alguma forma também torna a doença mais responsiva a um tratamento padrão chamado inibidores de checkpoint imunológico.
Com base em suas pesquisas, os autores estão desenvolvendo um teste para a perda do cromossomo Y em tumores com o objetivo de ajudar médicos a adaptarem esse método terapêutico para pacientes do sexo masculino com câncer de bexiga.
Para isso, analisaram dados de dois grupos de homens: um com câncer de bexiga invasivo muscular e cuja bexiga foi removida, mas não foi tratado com um inibidor de checkpoint imunológico; e outro que participou de um ensaio clínico e foi tratado com esse inibidor.
Eles descobriram que aqueles que apresentavam perda do cromossomo Y tinham pior prognóstico no primeiro grupo (sem o tratamento) e taxas de sobrevida global muito melhores no segundo (com tratamento).
Análise em ratos
Com intuito de entender o porquê disso acontecer, os autores compararam as taxas de crescimento de células de câncer de bexiga em camundongos de laboratório. Os pesquisadores cultivaram células cancerígenas em um recipiente no qual as células não foram expostas a células imunes. Os cientistas também cultivaram as células doentes em camundongos que não tinham um tipo de célula imune chamada células T.
Em ambos os casos, os tumores com e sem o cromossomo Y cresceram na mesma proporção. Porém, em camundongos com sistema imune intacto, os tumores sem o cromossomo Y cresceram a uma taxa muito mais rápida do aqueles com o cromossomo Y preservado.
“O fato de vermos apenas uma diferença na taxa de crescimento quando o sistema imunológico está em ação é a chave para o efeito de ‘perda de Y’ no câncer de bexiga”, comenta em nota Dan Theodorescu, diretor do Cedars-Sinai Cancer. “Esses resultados implicam que, quando as células perdem o cromossomo Y, elas esgotam as células T. E sem células T para combater o câncer, o tumor cresce agressivamente”.
Calcanhar de Aquiles
Com os resultados de humanos e animais, Theodorescu e sua equipe concluíram que os tumores sem o cromossomo Y são mais agressivos e, ao mesmo tempo, mais vulneráveis e responsivos aos inibidores de checkpoint imunológico.
“Felizmente, esse câncer agressivo tem um calcanhar de Aquiles, pois é mais sensível do que os cânceres com um cromossomo Y intacto aos inibidores de checkpoint imunológico”, dix Hany Abdel-Hafiz, professor associado do Cedars-Sinai Cancer e coprimeiro autor do estudo.
Um outro dado, que não foi publicado, aponta que a perda do cromossomo Y também torna o câncer de próstata mais agressivo. “Nossos investigadores postulam que a perda do cromossomo Y é uma estratégia adaptativa que as células tumorais desenvolveram para escapar do sistema imunológico e sobreviver em múltiplos órgãos”, explica Shlomo Melmed, vice-presidente executivo de Assuntos Acadêmicos e reitor do Departamento de Medicina Faculdade Cedars-Sinai.
Agora, o enfoque da pesquisa é entender a conexão genética entre a perda do cromossomo Y e a exaustão dos linfócitos T, para que o colapso do sistema imunológico seja evitado. “A exaustão das células T pode ser parcialmente revertida com inibidores de checkpoint, mas se pudermos impedir que isso aconteça em primeiro lugar, há muito potencial para melhorar os resultados para os pacientes”, comenta Theodorescu.
As descobertas, segundo os pesquisadores, além de serem voltadas ao cromossomo Y, também têm implicações para as mulheres, uma vez que o cromossomo Y tem um conjunto de genes relacionados, chamados genes parálogos. No cromossomo X, esses podem desempenhar um papel tanto em mulheres quanto em homens, mas que ainda precisa ser investigado.
Fonte: Revista Galileu