
Desde o começo da pandemia de Covid-19 no Brasil, a população precisou se adaptar e incorporar cuidados de prevenção contra o coronavírus Sars-CoV-2. Mas, enquanto havia muita preocupação com uma doença, outra passou desapercebida: a dengue.
Apenas nas seis primeiras semanas de 2022 foram registrados 70.555 casos de suspeita de dengue, crescimento de 43,5 % em relação ao mesmo período do ano anterior. Mesmo com o aumento, cerca de um terço (31%) dos brasileiros acreditam que a doença transmitida pelo Aedes aegypti deixou de existir depois da pandemia.
É o que revela uma pesquisa com 2 mil pessoas de todas as regiões do país, conduzida entre os dias 19 e 30 de outubro de 2021 pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), a pedido da biofarmacêutica Takeda e sob supervisão da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

“A dengue é uma doença que há muito tempo causa surtos no Brasil. O que acontece é que deixamos de falar dela durante a pandemia, mas ela continuou existindo. E qualquer descuidado [com o mosquito transmissor] faz com que ele se prolifere muito rápido, fazendo com que o aumento dos casos aconteça de forma acelerada”, explicou o infectologista da SBI Alberto Chebabo, durante coletiva de imprensa realizada na última terça-feira (15).
Para os especialistas, o casos ainda devem aumentar, principalmente durante o atual período de chuvas no país. Segundo Chebabo, tentar controlar a doença durante o verão é tarde. “Não adianta fazer o controle no momento da enchente”, advertiu. “O controle anterior do mosquito, ao longo do ano, evita com que a proliferação dele em épocas de chuva cresça de forma exponencial”.
Diferente do Sars-CoV-2, o vírus da dengue não pode ser transmitido por contato com infectados ou vias aéreas; é preciso levar uma picada de um Aedes aegypti que carregue uma das variantes virais. Por isso, o principal modo de se prevenir é controlando a população do inseto, cuja fêmea pode chegar a reproduzir até 200 ovos durante sua vida. O jeito, portanto, é eliminar criadouros, que se formam em lugares com água parada.
Segundo a pesquisa, 91% dos participantes acreditam que a dengue é uma doença que pode ser evitada, e dentre esses, 70% sabem que a melhor maneira de controlar a proliferação do mosquito é não deixar água parada. Essa é também a principal orientação de especialistas e do Ministério da Saúde.
Na prática, significa manter coberto qualquer local ou objeto que possa acumular água, de garrafas até a tampa da caixa d’água; limpar calhas e cobrir ralos com telas. No caso de vasos de plantas, a recomendação é cobri-los com terra e checar diariamente se estão acumulando água.
Segundo a pesquisa, seis em cada 10 pessoas (59%) não sabem que existem quatro variantes do vírus da dengue, e que se pode contrair a doença até quatro vezes. Para a infectologista Rosana Ritchmann, esse é um dos pontos de alerta que o estudo traz, pois a doença pode ser muito pior quando contraída mais de uma vez. “O segundo episódio de dengue carrega um risco maior, para um quadro mais grave”, explicou a especialista no evento.
Sintomas: dengue x covid
Alguns sintomas da dengue podem aparecer nos casos de Covid-19 também, mas é possível diferenciar uma infecção da outra. Os principais sintomas da dengue são: febre alta, dor atrás dos olhos, manchas vermelhas na pele, náusea e vômito, linfonodos inchados, dor de cabeça severa, dores musculares e articulares. “A febre da dengue é mais alta e mais repentina [em relação à causada pela Covid], outro diferencial importante é a falta de congestão nasal, espirros e coriza”, apontou Ritchmann.
A infectologista também alertou que, em casos de suspeita de dengue, um médico seja procurado e não se faça automedicação em nenhuma hipótese. “Esse é um ponto muito importante, pois existem algumas restrições nos medicamentos quando tratamos da dengue, justamente por conta das implicações vasculares que a doença pode causar”, acrescentou.
Além da pesquisa, a parceria entre a SBI e a empresa Takeda também resultou na criação de um site informativo sobre a dengue e como preveni-la. Acesse www.conhecadengue.com.br
*Com supervisão de Luiza Monteiro