
Cientistas da Universidade do Sul da Califórnia (USC), nos Estados Unidos, descobriram uma mutação genética em uma microproteína que protege contra a doença de Parkinson. A forma variante é relativamente rara e é encontrada principalmente em pessoas de ascendência europeia.
O estudo foi publicado nesta quarta-feira (3) na revista Molecular Psychiatry. Segundo os autores, a descoberta pode abrir caminho para novos tratamentos contra a doença, atrelada a danos às células nervosas do cérebro.
A microproteína onde ocorre a mutação recém-descoberta se chama SHLP2 e é produzida dentro das mitocôndrias da célula, ou seja, nas fábricas de energia celular. A estrutura foi identificada pela primeira vez por Pinchas Cohen na Escola Leonard Davis da USC em 2016.
Pesquisas anteriores do Laboratório de Cohen estabeleceram que a SHLP2 está associada à proteção contra doenças relacionadas ao envelhecimento, incluindo o câncer. Descobriu-se ainda que os níveis da microproteína aumentam à medida que o corpo tenta combater o Parkinson, mas muitas vezes falham em aumentar a produção adicional conforme a enfermidade progride.
Para o novo estudo, Su-Jeong Kim, autora principal e professora assistente de pesquisa adjunta de gerontologia na Escola Leonard Davis, liderou uma série de experimentos. O primeiro deles foi uma análise orientada por big data para identificar variantes envolvidas em doenças.
Milhares de participantes de três estudos diferentes (Health & Retirement Study, Cardiovascular Health Study e Framingham Heart Study) foram examinados quanto à variante SHLP2. Foram comparadas as variantes genéticas no DNA mitocondrial nos pacientes tanto com Parkinson quanto os saudáveis.
Assim, a equipe encontrou uma rara variante altamente protetora presente em 1% dos europeus, que reduziu o risco de Parkinson pela metade. Em seguida, demonstraram que esta cepa resulta em uma mudança na sequência de aminoácidos e na estrutura proteica da SHLP2.
Com técnicas direcionadas de espectrometria de massa, os pesquisadores identificaram também a presença da microproteína em neurônios. Isso permitiu descobrir que a SHLP2 se liga a uma enzima nas mitocôndrias chamada complexo mitocondrial 1 — a estrutura teve declínios em sua função associados não apenas ao Parkinson, mas também a derrames e ataques cardíacos.
Os benefícios da forma mutante da SHLP2 foram observados em experimentos in vitro em amostras de tecido humano e em modelos de camundongos com Parkinson.
“Nossos dados destacam os efeitos biológicos de uma determinada variante genética e os potenciais mecanismos moleculares pelos quais essa mutação pode reduzir o risco de Parkinson”, disse Kim, em comunicado. “Essas descobertas podem orientar o desenvolvimento de terapias e fornecer um roteiro para entender outras mutações encontradas em microproteínas mitocondriais.”