
Um estudo com base em dados de 2.886 homens suíços aponta que o uso frequente de celular pode estar associado a uma menor concentração e contagem total de espermatozoides. A pesquisa foi publicada nesta terça-feira (31) na revista Fertility and Sterility.
O estudo, feito por uma equipe da Universidade de Genebra (UNIGE) em colaboração com o Instituto de Saúde Pública e Tropical da Suíça (Swiss TPH), mostra que usar o aparelho celular com frequência pode piorar a qualidade do sêmen, que depende da quantidade e concentração dos espermatozoides.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um homem provavelmente levará mais de um ano para conceber uma criança se sua concentração de espermatozoides estiver abaixo de 15 milhões por mililitro. Além disso, a probabilidade de gravidez diminuirá se essa proporção estiver abaixo de 40 milhões por mililitro.
Contudo, outros fatores também determinam se o esperma tem qualidade, como a motilidade e a morfologia das células sexuais masculinas. Os pesquisadores, porém, não encontraram nenhuma associação entre o uso de telefones celulares e uma piora nesses dois critérios.
Os cientistas basearam seu estudo em dados de suíços com idades entre 18 e 22 anos, recrutados entre 2005 e 2018 em seis centros de alistamento militar. “Os homens preencheram um questionário detalhado relacionado aos seus hábitos de estilo de vida, seu estado de saúde geral e, mais especificamente, a frequência com que usavam seus celulares, bem como onde o colocavam quando não estavam em uso”, explica em comunicado Serge Nef, professor titular no Departamento de Medicina Genética e Desenvolvimento da Faculdade de Medicina da UNIGE.

A concentração média de espermatozoides foi maior entre os homens que não usavam o telefone mais do que uma vez por semana (56,5 milhões/mL), em comparação com os participantes que faziam o uso mais de 20 vezes por dia (44,5 milhões/mL). Essa diferença corresponde a uma diminuição de 21% na concentração de células sexuais dos usuários mais frequentes.
Tal diferenciação entre homens que usam mais o celular e os que usam menos se agravou no primeiro período do estudo (2005-2007) e diminuiu gradualmente com o tempo (2008-2011 e 2012-2018). “Essa tendência corresponde à transição do 2G para o 3G e, em seguida, do 3G para o 4G, que levou a uma redução na potência de transmissão dos telefones”, explica Martin RÖÖsli, professor associado do Swiss TPH, que é um dos autores da pesquisa.
Posição do celular não importa
Não importa se o celular está próximo ou não das partes íntimas, como no bolso da calça. A posição do telefone não foi associada a parâmetros de sêmen mais baixos, segundo o estudo. “No entanto, o número de pessoas nesta coorte que indicaram que não carregavam o telefone perto do corpo era muito pequeno para tirar uma conclusão realmente robusta sobre esse ponto específico”, contrapõe Rita Rahban, primeira autora do estudo.
A pesquisa se baseou em dados autodeclarados, o que é uma limitação. Além disso, a frequência de uso do celular relatada pelos participantes foi considerada em relação à exposição à radiação eletromagnética dos celulares, cujos efeitos são desconhecidos.
Para entender melhor a relação entre as ondas eletromagnéticas e a saúde reprodutiva masculina, um novo estudo está em andamento. A pesquisa, lançada em 2023 e financiada pelo Escritório Federal do Meio Ambiente (FOEN) da Suíça, irá medir a exposição à radiação em chamadas, navegação na web, envio de mensagens etc.. Os dados serão coletados por meio de um aplicativo que cada futuro participante baixará.
“As micro-ondas emitidas pelos telefones celulares têm um efeito direto ou indireto? Elas causam um aumento significativo na temperatura nos testículos? Elas afetam a regulação hormonal da produção de espermatozoides? Tudo isso ainda precisa ser descoberto”, afirma Rahban.