Pfizer testará antiviral contra a Covid-19 no Brasil

Além das vacinas, que atuam na prevenção, outra face do combate à pandemia de Covid-19 é a busca por um medicamento comprovadamente eficaz para pessoas já contaminadas pela doença. Um dos candidatos mais avançados nos testes clínicos é um antiviral da farmacêutica Pfizer, que agora será testado também no Brasil.

Depois de resultados animadores nos testes pré-clínicos — aqueles realizados em laboratório — e na fase 1 — que atesta a segurança em humanos —, agora o laboratório incluiu 29 centros de pesquisa brasileiros nas fases 2 e 3 do estudo. Essas são as etapas finais que buscam descobrir a dosagem ideal e a eficácia do medicamento antes da solicitação de uso para as agências reguladoras.

— A gente não tem tratamento ainda para formas leves da doença, que a pessoa possa tomar em casa e por via oral. E como as vacinas são muito importantes, mas não são 100% eficazes, é importante termos outras estratégias. Um medicamento como esse, se eficaz, pode acelerar o fim da pandemia — explica o infectologista e investigador principal de estudos clínicos do CRT-DST/AIDS, em São Paulo, que será um dos centros de estudo do antiviral, José Valdez Madruga.

O remédio da Pfizer utiliza uma molécula chamada de PF-07321332, que atua como inibidora da protease, uma das enzimas que o vírus da Covid-19 usa para se multiplicar e aumentar a sua infecção. Nos testes, ele é administrado junto ao ritonavir, um medicamento já utilizado que age inibindo o sistema de metabolização de medicamentos do fígado. Assim ele ajuda a aumentar o nível do antiviral no sangue e melhora a sua absorção pelo organismo, explica Valdez.

O medicamento em desenvolvimento é um comprimido administrado por via oral durante os primeiros cinco dias do diagnóstico. O objetivo das fases atuais do estudo é descobrir se ele consegue de fato impedir que a doença progrida para formas mais graves que demandem hospitalização, ou que levem ao óbito.

As pesquisas com o antiviral, que começaram no mundo em março de 2021, hoje estão espalhadas por mais de 170 centros de estudo nos EUA, Brasil, Hungria, Japão, Coreia do Sul, Malásia, México, Polônia, Porto Rico, Tailândia e Turquia. Aqui, o medicamento vai ser testado em onze estados e no Distrito Federal.

O modelo do estudo é randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, assim como o realizado pela farmacêutica para descobrir a eficácia da vacina. Ele funciona por meio da divisão dos participantes em dois grupos, em que um receberá o medicamento e o outro, um placebo. Ao fim dos testes, os dados são comparados para verificar o quanto o remédio foi capaz de melhorar a infecção em relação aos números do grupo que recebeu placebo.

— A divulgação dos resultados vai depender da velocidade de inclusão dos participantes. A pesquisa em si não é demorada, mas o problema é que um dos critérios de inclusão é a pessoa não estar vacinada, o que, conforme a campanha de imunização avança no mundo, fica mais difícil de encontrar — ressalta o infectologista.

Ele conta que os testes seguirão em três linhas. Uma verificará a eficácia entre pessoas consideradas de risco para a doença, como idosos com mais de 60 anos e pessoas com comorbidades, e outra para pessoas de fora desse grupo. Uma terceira investigará o uso do medicamento em pessoas que moram com alguém que foi diagnosticado com a doença, mas que ainda não foram contaminadas.

Em todas elas, os participantes precisam ser pessoas que não tenham sido imunizadas. A única exceção é para pessoas idosas ou com comorbidades que tenham recebido a vacina. Essas pessoas, caso desejem participar, serão parte do grupo considerado como sem risco para a doença, uma vez que a imunização diminui significativamente as chances de hospitalização e morte.

Tratamento da Covid

Hoje, há poucos tratamentos aprovados para a Covid-19, e todos têm o custo elevado e podem ser aplicados apenas em hospitais. O primeiro medicamento aprovado pela Anvisa, em março, foi o remdesivir, um antiviral injetável desenvolvido inicialmente para tratar a ebola.

Ele foi autorizado apenas para casos graves da doença e reduz, em média, 31% o tempo de internação de pacientes avançados da Covid-19, apontou um estudo do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas dos Estados Unidos. Porém, além de não atuar para prevenir a evolução de casos leves para graves, o remdesivir tem um custo elevado que pode ultrapassar 10 mil reais.

Outro tratamento aprovado no Brasil, mas direcionado a casos leves, é o regn-CoV2, um coquetel de dois anticorpos monoclonais: o casirivimabe e o imdevimabe. Mas ele também tem um preço elevado e é restrito ao ambiente hospitalar.

Outros medicamentos

O antiviral da Pfizer faz parte de um grupo de novos medicamentos desenvolvidos para combater a Covid-19 que avançam nos testes clínicos. Um deles, o molnupiravir, produzido pela farmacêutica MSD (Merck Sharp & Dohme), reduziu em aproximadamente 50% os riscos de internação e mortes em estudos clínicos de fase 3. O anúncio foi feito pelo laboratório no início de outubro.

Os resultados positivos levaram a farmacêutica a solicitar, poucos dias depois, a autorização para uso emergencial do medicamento à Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos EUA, que ainda não o autorizou. O remédio é também administrado por via oral e destinado a pacientes com casos leves a moderados de Covid-19. Se aprovado, será o primeiro medicamento de fácil uso, custo baixo e destinado aos primeiros dias de sintomas.

Além dele, outro tratamento que pode estar próximo de ser aprovado é um coquetel de drogas experimentais desenvolvido pela farmacêutica britânica AstraZeneca, administrado por injeção e também destinado aos primeiros dias de sintomas.

De acordo com o laboratório, nos testes, o coquetel proporcionou uma redução de 50% de casos graves ou mortes em pacientes não-hospitalizados. Além disso, a AstraZeneca afirmou que 90% dos participantes inscritos nos testes eram de grupos considerados de risco para a doença.

* Estagiário sob supervisão de Adriana Dias Lopes

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