
Após tomar remédios ayurvédicos para tratar infertilidade, uma mulher de 39 anos foi parar na emergência hospitalar três vezes ao longo de seis semanas no Canadá. A paciente relatava dor abdominal, constipação, náuseas e vômitos.
Após exames, os médicos descobriram que ela havia desenvolvido envenenamento por chumbo.
As pílulas que a mulher dizia tomar por mais de um ano fazem parte de uma forma de medicina tradicional indiana usada há 3 mil anos. Contudo, esses produtos às vezes contêm quantidades perigosas de chumbo, mercúrio ou arsênico. O caso foi registrado hoje (8) no periódico Canadian Medical Association Journal.
A paciente relatou que tomava “de alguns a uma dúzia de comprimidos por dia”. Após semanas de sintomas, ela tinha 55 microgramas de chumbo por decilitro de sangue — mais de 25 vezes a quantidade normal.
“Ela tinha um histórico médico de hipotireoidismo e infertilidade e estava tomando levotiroxina, injeções de folitropina alfa e ácido fólico”, descrevem os médicos. “Ela morava em um condomínio e trabalhava em um escritório. Não bebia álcool e não fumava. Não tinha um histórico de saúde notável em sua família”.

Em uma consulta, a mulher apresentou sinais de um distúrbio raro conhecido como porfiria, que afeta a forma como o corpo produz hemoglobina, a proteína que transporta oxigênio nos glóbulos vermelhos. Uma investigação mais aprofundada revelou que ela tomava medicamentos ayurvédicos, e exames de sangue comprovaram que ela tinha níveis anormais de chumbo.
Os médicos instruíram a paciente a parar de tomar os comprimidos imediatamente, e ela recebeu uma medicação para tratar o envenenamento por chumbo (ácido dimercaptosuccínico). A mulher foi aconselhada a evitar a gravidez até que seus níveis do metal diminuíssem.
Em um ano, a quantidade de chumbo se estabilizou, a energia da paciente estava de volta e suas náuseas, dores de barriga e vômitos desapareceram. Notando os perigos dos remédios ayurvédicos que ela havia tomado, os médicos entraram em contato com a Public Health Ontario, uma agência de saúde pública que fornece suporte científico e técnico à província canadense de Ontário e ao seu sistema de saúde.
A Public Health Ontario facilitou o teste de 17 pílulas e duas amostras de incenso fornecidas pela paciente. Destas, 11 comprimidos continham níveis de chumbo superiores ao limite de detecção, e um comprimido continha 129 mil μg/g de chumbo. Quatro pílulas adicionais continham entre 7,9 mil a 33 mil μg/g de mercúrio.
Depois da apreensão de centenas de comprimidos do fornecedor por autoridades de saúde, a clínica ayurvédica que fornecia as pílulas à mulher foi investigada. A Health Canada testou independentemente 15 tipos de pílulas apreendidas no local e encontrou altos níveis de arsênico, mercúrio ou chumbo em 14 das amostras. Três comprimidos também traziam medicamentos prescritos em sua composição.
Os investigadores emitiram um alerta oficial aos consumidores de que os produtos vendidos na empresa “representam um risco à saúde”.
“Este caso destaca os riscos e as manifestações clínicas da toxicidade do chumbo de medicamentos ayurvédicos e a importância da colaboração entre médicos e autoridades de saúde pública para controlar o risco à saúde do chumbo em produtos de consumo”, escreveram os autores do estudo.
Fonte: Revista Galileu