Por que Tarcísio Meira morreu de Covid mesmo com duas doses de vacina?

Mesmo vacinado com duas doses contra a Covid-19, o ator Tarcísio Meira morreu nesta quinta-feira (12) em decorrência da doença. O caso levantou discussão sobre óbitos entre os imunizados. Mas especialistas garantem: as vacinas são eficazes e protegem contra complicações da enfermidade.

No entanto, nenhum dos imunizantes é 100% seguro. E, nos idosos, conforme explicou o geriatra Estevão Valle, a eficácia tende a diminuir, o que não significa que os mais velhos não devem ser vacinados. Pelo contrário, as vacinas reduziram drasticamente os óbitos na faixa etária acima dos 60 anos.

“A Covid é uma doença muito mais grave nos mais velhos. Mas as pessoas não vacinadas têm um risco ainda maior. Em geral, as pessoas mais velhas têm eficácia menor das vacinas, por causa da imunossenescência, que é o envelhecimento do sistema imunológico. As respostas das vacinas, não só da Covid, mas de todas, são menores. E isso independe do fabricante do imunizante”, esclareceu.

Conforme o médico, dados científicos mostram que no Brasil, atualmente, 90% dos mortos pelo novo coronavírus estão entre os não vacinados. “A gente indica a vacina para todos porque é segura e protege contra as formas graves da doença, evita que boa parte dos idosos tenham complicações. Mesmo diminuindo a eficácia nos mais velhos, ela é segura. Não vacinar é ter uma chance muito grande de ter complicações”, garante o geriatra.

Outros dois fatores também precisam ser analisados para tentar entender o motivo da morte de Tarcísio Meira. O quadro clínico do ator e as novas variantes que estão em circulação em todo o território brasileiro. Conforme boletim médico do Hospital Hospital Albert Einstein (SP), o ator passava por diálise contínua (ou hemodiálise) por problemas nos rins.

“Não se sabe ao certo qual era o quadro clínico e nem o que ele já tinha de comorbidades. Doenças preexistentes são complicadores da Covid”, pontuou o médico. “Além disso, estamos com variantes novas, e não se sabe se elas podem escapar das vacinas”, declarou Valle.

O geriatra lembrou que o Ministério da Saúde está desenvolvendo um estudo sobre a aplicação de dose de reforço para quem tomou Coronavac, especialmente em pessoas com imunidade baixa, inclusive idosos, para aumentar a proteção dos mais frágeis e suscetíveis ao coronavírus. Esse estudo está sendo realizado com 1.200 pessoas que tomaram a segunda dose há seis meses, utilizando os quatro imunizantes disponíveis no Brasil: Coronavac, AstraZeneca, Pfizer e Janssen.

“A gente sempre fica muito comovido com essa situação, da morte do ator. Mas, hoje, mais de 90% dos mortos são não vacinados. Por isso, reforço a importância de se imunizar e incentivar a imunização”, defende o médico.

Outras estratégias de segurança também devem ser adotadas para evitar complicações da doença, como uso de máscara, higienização das mãos e evitar aglomerações.

Estudo comprova eficácia da vacina

Um estudo feito por meio da plataforma de monitoramento Info Tracker, desenvolvida por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), indicou que as pessoas imunizadas correspondem a uma parcela pequeníssima das mortes por Covid na atualidade.

Esse levantamento registrou 9.878 óbitos de pessoas com esquema vacinal completo, com base em dados do Ministério da Saúde. Esse número corresponde a 3,68% do total de mortes registradas no país entre fevereiro e julho. Ou seja, mesmo que alguns idosos imunizados tenham morrido após a infecção pelo coronavírus, a grande maioria das vítimas é formada por pessoas não vacinadas.

Fake news circularam pelas redes 

Após o anúncio da morte de Tarcísio Meira pela imprensa, muitas postagens começaram a circular pelas redes sociais colocando em xeque a eficácia das vacinas e muitas críticas direcionadas à Coronavac, que poderia ter sido o imunizante aplicado no ator.

O oncologista Bruno Andraus Filardi, do Instituto do Câncer Brasil, usou o Twitter para defender uma revacinação de idosos que receberam o imunizante produzido pelo Instituto Butantan. “Coronavac é uma boa vacina. Salvou muitas vidas. É menos efetiva que as outras em idosos principalmente. População mais vulnerável”, escreveu.

O debate já havia ganhado expressão nas redes sociais em maio, após a morte de Nelson Sargento, de Covid, aos 96 anos, mesmo tendo sido imunizado com duas doses de vacina. Naquele momento, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, explicou que os idosos não respondem menos na produção de anticorpos em relação aos indivíduos mais novos.

Na verdade, todas as vacinas apresentam taxas de eficácias diferentes conforme os grupos etários, mas é difícil fazer uma comparação entre os quatro imunizantes hoje usados no país porque a Coronavac foi o imunizante mais utilizado entre os idosos brasileiros.

Um estudo publicado em julho pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicou que a taxa de efetividade para pessoas com esquema vacinal completo com Coronavac é de 79,6% para pessoas com 60 a 79 anos e de 68,8% em idosos com 80 anos ou mais.

Independentemente das vacinas utilizadas, para conter novas infecções, especialmente pela variante delta, é fundamental que o país expanda sua vacinação. De acordo com o Ministério da Saúde, até agora, a primeira dose da vacina Covid-19 já chegou mais para mais de 108 milhões de brasileiros, ou seja, 68% da população acima de 18 anos. Cerca de 29% do público-alvo já está imunizado com as duas doses ou a dose única.

Vacinação é uma das medidas de proteção

Frente a várias postagens com fake news e questionamentos sobre a eficácia das vacinas, a infectologista Luana Araújo publicou um vídeo no Instagram reforçando a importância da imunização para o combate da pandemia.

“A vacina é mais uma estratégia, ela não é bala de prata como muita gente quer. Ela é mais uma estratégia extremamente potente e da qual a gente não pode abrir mão na luta contra uma pandemia. Mas não pode estar sozinha. É a vacinação acompanhada do distanciamento, do uso da máscara, da higiene de mãos e da ventilação natural”, explica a médica.

Ela faz questão de dizer que a notícia da morte de Tarcísio Meira por Covid deixa todos muito consternados, mas não pode ser motivo para a circulação de mensagens que colocam em xeque a importância da vacinação. “Hoje poderia estar sendo um dia muito mais triste do que está sendo. Porque a vacina aplicada para os idosos de forma prioritária salvou muitas vidas dos idosos”.

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