‘Sou alérgica às minhas próprias lágrimas’, conta adolescente com quadro raro de alergia à água

Uma menina de 14 anos, moradora do estado de Missouri, nos Estados Unidos, foi diagnosticada com um quadro de urticária aquagênica (UA) – uma alergia à água que provoca sintomas até mesmo ao ser exposta às lágrimas do choro ou ao tomar banho. Estima-se que a doença acometa apenas uma a cada 230 milhões de pessoas, sendo portanto extremamente rara. Ao jornal britânico The Independent, Sadie Tessmer contou como é conviver com a alergia.

— Às vezes, parece que alguém está derramando gasolina no meu corpo e me incendiando e isso coça. Sempre recebo uma reação (alérgica) quando tomo banho ou lavo as mãos, ou até choro ou suo. Dói tanto que começo a chorar, e isso piora porque sou alérgica às minhas próprias lágrimas, o que me estressa. Tento evitar (colocar) água no rosto ou no pescoço porque não quero entrar em choque anafilático. Eu tenho EpiPens, mas é aterrorizante — relata a adolescente.

O choque anafilático é uma reação alérgica grave que pode deixar o indivíduo sem conseguir respirar. Por isso, pessoas com alergias severas costumam carregar canetas de epinefrina (EpiPens), uma substância com efeito de estimulante cardíaco injetada no paciente que tem indicação durante a ocorrência do choque.

 

 

Sadie conta que recebeu o diagnóstico para a UA há quatro meses. No dia a dia, a doença faz com que a exposição à água provoque irritações vermelhas na pele que coçam e podem ser dolorosas. As lesões dependendo da quantidade de líquido com que ela entrou em contato.

Até meados de 2021, ela não tinha problemas com água e adorava nadar e remar na praia, por exemplo. A suspeita para o diagnóstico começou quando ela percebeu que estava ficando com a pele muito vermelha ou até mesmo desmaiando após tomar um banho.

 

O fato levou a mãe de Sadie, Amber Salle, de 37 anos, a imaginar que a água estava muito quente e a brincar com a filha de que ela era alérgica a banhos. Porém, quando a situação se tornou recorrente e preocupante, uma ida ao dermatologista em maio deste ano revelou que a brincadeira tinha um fundo de verdade. Após os testes, a adolescente foi diagnosticada com a UA – uma condição relatada em apenas 50 a 100 pacientes em todo o mundo.

“É uma doença rara, caracterizada pela formação de urticas perifoliculares (lesões na pele) com 1 a 3 mm de tamanho surgindo após o contato com água, independente da temperatura. As lesões tendem a localizar-se preferencialmente no tronco e parte superior dos membros, e podem durar de 10 a 60 minutos (…) O diagnóstico é baseado na história clínica e confirmado por testes de provocação, e o tratamento compreende o manejo da ocorrência de sintomas e controle da doença, de forma completa, pelo tempo que for necessário para a remissão espontânea ocorrer”, explicam pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) no relato de um caso de UA no Brasil, publicado na revista científica Arquivos de Asma, Alergia e Imunologia em janeiro deste ano.

 

Um dos testes utilizados para diagnosticar a condição envolve a aplicação de um pano umedecido com água em temperatura ambiente na pele por 20 minutos para ver se o paciente desenvolve urticária. No caso de Sadie, em apenas 30 segundos os sintomas já começaram a aparecer.

— Eu estava preocupada com as coisas que eu seria capaz de fazer na minha vida, coisas como minha carreira ou até mesmo a escola. Mas não parecia real, eu não achava que você pudesse ser alérgico à água. Se alguém me dissesse que sim, eu pensaria que estava mentindo. Fiquei bastante deprimida por alguns meses por causa disso, e fico muito chateada quando as pessoas me perguntam se quero ir à praia — conta a adolescente.

 

O tratamento de Sadie é feito com anti-histamínicos e injeções anti alérgicas para ajudar a controlar as reações. A mãe da jovem decidiu adotar o modelo de homeschooling, dando aulas em casa, para evitar que a filha sofra na escola durante aulas como as de educação física, que deixam a pessoa suada.

— Na escola você precisa fazer educação física, e eu sou alérgica ao meu suor. Eu sou educada em casa agora, então eu não tenho que fazer educação física. Sempre gostei de jogar futebol e adorava nadar, mas não consegui fazer isso desde então — diz Sadia ao The Independent.

O caso dela não a impede de beber água, uma vez que a alergia não é interna, mas ela conta que precisa evitar molhar os lábios durante o processo para não provocar uma reação na área.

 

 

Ela reclama das restrições impostas pela doença, especialmente em épocas como o verão, em que não pode sair para se divertir com os amigos devido ao calor e à alta umidade do ar. Para piorar, ela precisa controlar as emoções ao se sentir triste pois o choro provocará reações alérgicas.

— Eu me preocupo muito em ser emotiva, porque sou uma pessoa emotiva, então tenho que fazer de tudo para não chorar — diz a jovem.

Fonte- O Globo

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