Terapia hormonal da menopausa é para todas?

Aproximadamente 75% das mulheres com idade entre 45 e 55 anos sofrem com sintomas que afetam sua qualidade de vida

Estou mergulhada na questão da menopausa e seu impacto nas diferentes esferas da vida feminina, embora os sintomas produzidos pelo declínio da produção do estrogênio sejam os mais visíveis: de ondas de calor a oscilações de humor; de perda da libido a risco cardiovascular aumentado. Diante de tantos problemas, surge a pergunta: será que a terapia hormonal da menopausa (THM) – popularmente conhecida como reposição hormonal – é uma panaceia para todos os males?

Minha guia é a endocrinologista Flavia Barbosa, mestre e doutora em endocrinologia pela UFRJ e membro da Sociedade Brasileira de Diabetes e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Ela diz que a THM com estrogênio e progesterona é o tratamento mais eficaz para os sintomas do climatério e já demonstrou prevenir perda óssea e fraturas. “Os benefícios podem exceder os riscos para a maioria das mulheres pós-menopáusicas sintomáticas que têm menos de 60 anos ou menos de dez anos desde o início da menopausa”, afirma, enfatizando que a terapia tem que ser individualizada com base em fatores clínicos e precedida do rastreamento de risco cardiovascular e câncer de mama. Para as pacientes histerectomizadas (que retiraram o útero), o tratamento é feito apenas com estrogênio. Reavaliações periódicas são mandatórias para todas.

A terapia hormonal pode ser iniciada na fase de transição da perimenopausa, período durante o qual se dá o aumento da irregularidade do ciclo menstrual. Ela lembra que, além dos fogachos, a menstruação pode se tornar até frequente e excessiva ou mais espaçada, e o somatório de desconfortos impacta a qualidade de vida: “aproximadamente 75% das mulheres com idade entre 45 e 55 anos sofrem de sintomas da menopausa, o que pode levar a baixa autoestima, distúrbios do sono e sensação de diminuição da energia”. O estrogênio pode ser administrado por via oral (comprimidos) e percutânea (adesivos ou gel). A via transdérmica é a mais segura porque reduz o risco pró-trombótico e a descompensação da pressão arterial. A progesterona pode ser prescrita como comprimido oral ou óvulo intravaginal, ou ainda ser usada através do sistema de liberação intrauterina.

Pacientes com histórico pessoal de câncer de mama, de diversos subtipos de câncer endometrial, doença coronariana prévia ou mutação pró-trombótica não devem receber THM. No caso da presença de fatores de risco para trombose ou doença coronariana, como obesidade ou tabagismo, a terapia hormonal tem que ser escolhida de forma a minimizar tais possibilidades e o monitoramento deve ser intensivo. Para a doutora Flavia, desde que bem indicada e dentro da chamada janela de oportunidade, nos primeiros anos após a menopausa, ela traz benefícios adicionais, como a redução da perda da massa óssea, do risco de câncer colorretal e a prevenção de sarcopenia, que tende a se agravar com o envelhecimento.

Para aquelas que, apesar dos sintomas, preferem não adotar a terapia hormonal, há opções como o estrogênio vaginal de baixa dosagem e o ospemifeno (medicamento indicado para ressecamento, ardência e dor na relação sexual), além de hidratantes e lubrificantes vaginais. Um dos grandes temores que envolvem a reposição é o risco de desenvolver câncer de mama depois de um período prolongado de uso. A endocrinologista explica que, com base em resultados de pesquisas, não é possível fornecer instruções precisas sobre a duração da utilização: “não há necessidade de impor um limite na duração da terapia, desde que uma dose mínima eficaz seja usada e as pacientes estejam cientes dos benefícios e riscos potenciais do tratamento. O risco de incidência de câncer de mama está diretamente relacionado ao tipo de terapia escolhida, sendo a progesterona micronizada a mais indicada, preferencialmente com estrogênio transdérmico. Se não houver ocorrência de novas doenças e o acompanhamento clínico for regular, é seguro continuar a THM”.

Em relação à testosterona, a doutora Flavia reforça que ela é indicada somente para mulheres pós-menopáusicas com Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo, quando há ausência persistente da falta de desejo. Estudos clínicos relatam alguma eficácia e segurança no curto prazo, mas não existem trabalhos que detalhem as consequências de sua utilização além de 24 meses de tratamento. Como os dados científicos são insuficientes, ela afirma que, em pacientes na pós-menopausa sintomáticas e com suplementação de estrogênio adequada, é possível valer-se da testosterona por um período de três a seis meses para avaliação dos resultados.

 

Fonte: G1

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