Uma a cada três crianças brasileiras pode ter anemia por falta de ferro

Uma a cada três crianças de até 7 anos sofre de anemia por deficiência de ferro no Brasil, segundo novo estudo liderado pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Para investigar a prevalência da doença, os especialistas analisaram 134 pesquisas anteriores que, juntas, envolveram quase 47 mil meninos e meninas entre os anos de 2007 e 2020. Os resultados foram publicados em julho no periódico Public Health Nutrition.

Considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um indicador de má nutrição, a falta de ferro é responsável por 90% dos casos brasileiros de anemia que, nas crianças, podem estar relacionados ao baixo índice de aleitamento materno e a uma alimentação inadequada.

“Muitas vezes, as crianças que não recebem leite materno acabam consumindo leite de vaca antes de um ano, idade imprópria para isso”, diz o coordenador do estudo, Carlos Alberto Nogueira de Almeida, em comunicado enviado à imprensa. “Além de não ter ferro, este leite ajuda a perdê-lo do organismo, já que provoca pequenas hemorragias na mucosa intestinal e o seu cálcio acaba levando o ferro para as fezes”, explica o professor do departamento de medicina da UFSCar.

A elevada taxa de mães com anemia ferropriva também é um dos possíveis motivos para o preocupante percentual de crianças anêmicas, de acordo com o pesquisador. Mulheres grávidas com anemia passam uma quantidade insuficiente de ferro para a placenta e têm um leite mais pobre para oferecer aos filhos.

Outro fator que pode contribuir para a deficiência de ferro é a origem do nutriente. Segundo Almeida, as carnes são uma importante fonte de ferro, mas seu alto custo gera um consumo baixo, deixando para o feijão o papel de nutrir os brasileiros. “[O feijão] É importante, mas é um ferro que o corpo humano não aproveita tão bem quanto o da carne”, esclarece.

A anemia ferropriva pode afetar a disposição de crianças e contribuir para seu isolamento, déficit de aprendizado e dificuldades no desenvolvimento intelectual, além de prejudicar o sistema imunológico. Se uma população apresenta prevalência da doença maior que 4,9%, ela passa a ser considerada uma importante questão de saúde pública, afirma o docente. “Quando há prevalência superior a 40%, é classificada como grave problema de saúde pública.”

O estudo também apresentou importantes resultados para avaliação de políticas públicas a médio prazo. Segundo a pesquisa de revisão, houve estabilidade no índice de anemia desde 2007, o que significa que ações tomadas até aqui parecem não ter favorecido o combate à doença. Um exemplo trazido pelo estudo é a Estratégia de Fortificação da Alimentação Infantil com Micronutrientes (vitaminas e minerais) em Pó, o NutriSUS, que foi criado em 2015.

Sem diferenças significativas observadas entre as regiões brasileiras, a prevalência geral é alta e deve ser resolvida conjuntamente, acredita Nogueira-de-Almeida. Os pesquisadores do estudo sugerem que medidas como oferecer pré-natal gratuito e estimular o aleitamento materno são fundamentais.

“Algumas ações urgentes consistem na criação e no fortalecimento de políticas públicas de distribuição de renda, para se obter recursos para compra de alimentos fortificados em ferro, e de educação nutricional, para fomentar uma conscientização sobre a importância dos alimentos, seus nutrientes e vitaminas”, comenta o autor da pesquisa.

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