Viver mais nem sempre é viver melhor

No Brasil, a expectativa de vida é 75,8 anos. Os países mais longevos do mundo, como o Japão e a Coreia, ou mesmo países mais desenvolvidos, a expectativa é de mais de 80 anos. Ai, fica a sensação de que o brasileiro vive pouco…

 

Mas, essas estatísticas não segmentam por tipo de morte, e o cálculo da expectativa de vida é feito de forma generalizada, ignorando que em países como o Brasil, o número de mortes causados pela violência, por exemplo, é enorme. Num estudo mais detalhado, descobriríamos que por morte natural, velhice ou doenças, nossa expectativa de vida se equipara a de outros países, chegando, sim, aos 80 anos. Mas, a minha reflexão de hoje é sobre como vamos viver até essa idade, como queremos viver. E essa resposta é dada por cada escolha que fazemos hoje, no que diz respeito à nossa saúde.

Atualmente, as pessoas não morrem pelos mesmos motivos que morriam há anos. Pontes de safena, cateter, marca-passo, transplantes, e uma série de outras intervenções médicas podem resolver problemas graves e nos dar uma sobrevida de muitos e muitos anos.

O que me preocupa é o tempo de autonomia comprometida que as pessoas têm no Brasil, quando comparado a outros países. Os brasileiros passam, em média, seus últimos 11 anos de vida com saúde comprometida, necessitando de ajuda, cuidador, sem quase nenhuma independência, com atividades diárias limitadas, altos custos de remédios, médicos e intervenções hospitalares esporádicas. A Coreia, nos anos 1980, era parecida com nosso país, mas eles conseguiram, por meio de vários programas de prevenção, fazer com que esse numero caísse para cerca de três anos.

Claro que não temos o poder de decidir até quando vamos viver, e muitas vezes não temos o poder de decidir como vamos viver. Algumas doenças, acidentes violentos, enfim, o inesperado pode bater à porta de qualquer pessoa, a qualquer momento. Mas podemos fazer a nossa parte, construindo uma velhice com mais dignidade, autonomia e saúde, pensando nas escolhas que fazemos hoje, agora, a cada momento.

E o que seria fazer escolhas e viver de uma forma diferente? Não quero convencer ninguém a fazer musculação, frequentar academia, correr 10 km todos os dias, não comer isso ou aquilo. Até porque não existe uma fórmula mágica ou uma única maneira de ser mais saudável. Mas, evidências científicas já comprovaram, por exemplo, que dormir bem reduz probabilidade de demências e ajuda no controle do peso. Sabe-se também que a atividade física regular ajuda a dormir melhor e a fazer melhores escolhas na alimentação, além de reduzir o estresse. E que alimentar-se melhor, nos deixa mais dispostos, física e mentalmente. Ou seja, quando se fala em ser saudável, um hábito vai puxando o outro, e formando um ciclo virtuoso. E dessa forma vamos programando nossa autonomia prolongada lá na frente, durante a velhice.

Se o mundo vai viver mais, se nós, brasileiros vamos chegar e até passar dos 80 anos, temos que ter consciência da importância de nos cuidarmos, de maneira individual, pensando em nosso bem-estar no futuro. Mas, igualmente, pensando de maneira coletiva, considerando que o custo financeiro de tantas pessoas vivendo em situações críticas na velhice é gigante e em breve não haverá como pagar essa conta.

Vamos nos colocar como prioridades em nossas vidas, em nossa rotina. Vamos nos dar diariamente o tempo que precisamos para nos alimentar bem, com equilíbrio e calma, nos movimentar, sermos fisicamente ativos, melhorar a qualidade do nosso sono, tentarmos ter mais lazer e deixar o estresse um pouco de lado sempre que possível. Atitude como essas, garantem nossa longevidade na saúde e na qualidade de vida.

Fonte: O Globo

Comments are closed.

This website uses cookies to improve your experience. We'll assume you're ok with this, but you can opt-out if you wish. Accept Read More

Privacy & Cookies Policy