62% das brasileiras já tiveram pelo menos uma gravidez não planejada

Uma pesquisa realizada pela empresa Bayer em parceria com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) mostra que a gravidez não planejada ainda é um problema grave no Brasil. Segundo a investigação, que ouviu cerca de mil mulheres entre agosto e setembro de 2021, mais de 60% das brasileiras já tiveram ao menos uma gestação surpresa ao longo da vida.

Conduzido pelo instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria (IPEC), o levantamento foi feito por meio de entrevistas online em meio à pandemia de Covid-19. Seu objetivo foi trazer estimativas mais atualizadas a respeito da gravidez não planejada no país, já que os dados mais recentes sobre o assunto foram coletados pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) entre 2011 e 2012.

Na época, a pesquisa com 24 mil mulheres revelou que 55% das brasileiras que tiveram filhos não haviam planejado a gravidez. É um índice bem acima da média mundial, estimado em 40%. No novo estudo, que englobou mil mulheres das regiões Norte (16%), Centro-Oeste (16%), Sul (16%), Nordeste (20%) e Sudeste (47%), essa taxa foi de 62%.

“A gravidez não planejada é um problema no mundo inteiro. A taxa global já foi de 50%, caiu com o tempo e chegou ao índice atual de cerca de 40%. O índice do Brasil também já foi de 50% mas, ao invés de cair, o país foi na contramão do mundo e agora subiu para 62%”, recordou Thais Ushikusa, ginecologista obstetra e gerente médica de saúde feminina na Bayer Brasil, durante evento de apresentação do relatório nesta quinta-feira (16). “Essa nova estimativa mostra que essa ainda é uma realidade muito séria no país”.

Pílula ou DIU?

De acordo com o estudo, a quantidade de gestações não planejadas foi, em média, de 1,5 — ou seja, entre 1 e 2 gravidezes inesperadas. Entre essas mulheres, 46% afirmaram usar métodos contraceptivos. Não fazer uso de nenhum método (34%), falha do método (27%) e o uso incorreto (20%) foram apontados como os principais motivos que levaram à gravidez surpresa.

Em estudo, ressonância magnética identifica efeitos do DIU nas mamas (Foto: Sarahmirk/Wikimedia Commons)
Apenas 4% das entrevistadas afirmaram utilizar Dispositivos Intrauterinos de Cobre (DIU) ou DIU hormonal (Foto: Sarahmirk/Wikimedia Commons)

A pesquisa mostra que a adesão das brasileiras às formas de contracepção de longa duração, que não dependem da “memória” da usuária, ainda é baixa: apenas 4% afirmaram utilizar Dispositivos Intrauterinos de Cobre (DIU) ou DIU hormonal, cuja eficácia é de cerca de 99% e a durabilidade gira em torno de 5 a 10 anos, respectivamente.

A pílula anticoncepcional (31%) e a camisinha (20%), métodos que têm maior chance de falhas devido à possibilidade de esquecimento do uso, foram os mais utilizados pelas mulheres que participaram da pesquisa.

Segundo o levantamento, 23% das participantes disseram fazer uso de determinado método por conta própria – isto é, sem ter consultado um ginecologista. “Esse dado é preocupante”, avaliou Maria Celeste Osório Wender, médica ginecologista da Febrasgo e professora titular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “Será que o método que elas escolheram era a opção ideal?”, indagou a especialista, ressaltando a importância de que esse tipo de decisão seja feita junto um profissional.

Ir ao ginecologista antes do início da vida sexual, no entanto, foi algo deixado de lado pela maioria das entrevistadas: 66% não iam ao médico antes de começar a ter relações sexuais. Os principais motivos? Elas não sabiam que isso era importante (29%) ou tinham vergonha (27%). “Infelizmente, o Brasil ainda é um país que tem tabus, que tem muita desinformação e preconceito sobre o assunto. E isso é péssimo”, analisou Wender.

Acesso à informação

Para as especialistas, esses dados ressaltam a importância de expandir o acesso à informação sobre métodos contraceptivos no país. É também a opinião das entrevistadas: 93% das mulheres afirmam que é necessário ampliar o acesso ao conhecimento sobre métodos contraceptivos de longa ação, como os DIUs de cobre e hormonal, disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).

E as estratégias de planejamento familiar, defendem as pesquisadoras, precisam ter um foco especial entre as jovens. Os dados mostram que 48% das participantes que tiveram alguma gravidez não planejada engravidaram pela primeira vez entre os 19 e 25 anos de idade, e 21% entre 14 e 18 anos. No total, quase metade das mulheres pertenciam à classe C.

Enquanto mulheres de classes mais altas geralmente têm uma rede de apoio socioeconômica maior diante de uma gravidez não planejada, essa não é a realidade da maior parte das jovens no Brasil, alerta a especialista da Febrasgo. “Ou ela vai partir para um aborto inseguro, onde ela corre risco de vida, de saúde e reprodutivo, ou ela abandona os estudos, e isso impacta barbaramente a vida dessa mulher”, disse Wender.

Estudo do Centro para Controle e Prevenção de Doenças indica que, dentre as pacientes com Covid-19, aquelas que estavam grávidas tiveram mais necessidade de internação em UTI e de ventiladores mecânicos (Foto: freestocks.org / Pexels)

Em estudo, 62% das brasileiras já tiveram pelo menos uma gravidez não planejada (Foto: freestocks.org / Pexels)

Além do abandono escolar e do aborto ilegal, a gravidez não planejada está associada a maiores índices de mortalidade e morbidade tanto da mãe quanto do feto, parto prematuro, depressão pós-parto e prejuízos econômicos.

Educar a população e viabilizar o acesso aos meios contraceptivos mais eficazes são as melhores formas de garantir às brasileiras o direito de decidir sobre o melhor momento de ter um bebê. “A informação é o bem mais valioso para tudo, a informação é modificadora de realidades”, defende Wender.

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