Como vai funcionar a vacinação de crianças no Brasil; entenda

SÃO PAULO — O primeiro lote de vacinas pediátricas contra a Covid-19 chegou ao Brasil nesta quinta-feira. No total, 1,248 milhão de doses desembarcaram no aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), e foram encaminhadas para o centro de distribuição e logística do Ministério da Saúde, em Guarulhos (SP). A distribuição das doses começa ainda hoje.

A quantidade enviada a cada unidade federativa será proporcional à população de crianças. A previsão do Ministério é receber 4,3 milhões de doses de vacinas infantis no mês de janeiro e um total de 20 milhões no primeiro trimestre.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) incluiu crianças de 5 a 11 anos na bula da vacina da Pfizer numa decisão anunciada em reunião virtual no dia 16 de dezembro.

A seguir, o GLOBO esclarece as principais dúvidas sobre a vacinação de crianças no Brasil. Confira:

Quando começa a vacinação infantil no Brasil?

O Ministério da Saúde ainda não definiu uma data para início da aplicação das doses pediátricas, mas a previsão é que o anúncio ocorra ainda nesta quinta. Algumas cidades e estados, porém, já se adiantaram e divulgaram o calendário de início das aplicações.

No Rio de Janeiro, em Niterói e em São Paulo, por exemplo, a previsão é começar a imunização na segunda-feira. Teresina (PI) prevê o início da campanha para amanhã. Em Manaus, a previsão é começar a imunização na terceira semana de janeiro.

É preciso apresentar prescrição médica?

Não. O Ministério da Saúde cogitou essa possibilidade, mas voltou atrás após a maioria dos participantes da Consulta Pública organizada pela pasta ter rechaçado a exigência. Especialistas ouvidos pelo GLOBO afirmam que esse é um ponto fundamental para garantir a igualdade no acesso às vacinas, conforme garantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e a agilidade na vacinação deste público.

A autorização dos pais ou responsáveis será obrigatória?

Não. A autorização para vacinação será apenas uma recomendação, não obrigatória como havia sido anunciado.

Quantas doses já foram compradas?

As doses pediátricas fornecidas pela Pfizer ao Brasil fazem parte de um contrato entre a farmacêutica e o governo brasileiro para o fornecimento de 100 milhões de doses de vacinas em 2022. De acordo com o ministro Marcelo Queiroga, cerca de 20 milhões de doses estão previstas para chegar ao país até março. São 4,3 milhões de doses em janeiro, 7,2 milhões em fevereiro e 8,4 milhões em março.

A quantidade é suficiente para imunizar toda a população de 5 a 11 anos com apenas uma dose. Segundo dados do IBGE, o Brasil tem cerca de 20,5 milhões de crianças nessa faixa etária. Portanto, para completar o esquema vacinal de todos nessa faixa etária, são necessárias 40 milhões de doses.

O Ministério da Saúde disse que a encomenda de novas doses pediátricas está condicionada à adesão dos pais pela vacinação infantil.

Como vai funcionar a vacinação das crianças?

Como não há vacina suficiente para imunizar todas as crianças neste primeiro momento, o Ministério da Saúde definiu grupos prioritários na imunização infantil, como ocorreu com os adultos. De acordo com a nota técnica divulgada pela pasta, a ordem será a seguinte:

  • crianças de 5 a 11 anos com deficiência permanente ou com comorbidades
  • crianças indígenas e quilombolas
  • crianças que vivem na mesma residência de pessoas com alto risco de complicações da Covid-19
  • crianças sem comorbidades, em ordem decrescente de idade: primeiro, as de 10 e 11 anos; depois, as de 8 e 9 anos; em seguida, as de 6 e 7 anos; e, por último, as crianças de 5 anos.

Até o momento, oito unidades da federação afirmam que irão seguir as diretrizes da pasta. São elas: Amapá, Amazonas, Distrito Federal, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Piauí e Tocantins.

Outras, divulgaram um planejamento diferente. Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, a vacinação começará pelas meninas de 11 anos. Já em Niterói, será por meninos e meninas dessa idade que tenham comorbidades. Teresina prevê começar a campanha pelas crianças de 11 anos e seguir em ordem decrescente. No município de São Paulo, a vacinação também será por idade em ordem decrescente. Não haverá divisão entre crianças com comorbidades e as demais. Essa também será a estratégia implementada em Goiás, no Ceará e em Rondônia.

O Espírito Santo irá priorizar as crianças com comorbidades. Assim como o estado de São Paulo, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul.

Em Pernambuco, a vacinação começará pelas crianças com doença neurológica crônica, com distúrbios do desenvolvimento neurológico e indígenas. Em Santa Catarina, a vacinação será escalonada, por faixa etária, com prioridade para indígenas, quilombolas e crianças com comorbidades.

Já nos estados da Bahia, Mato Grosso, Pará e Paraná, a estratégia de vacinação caberá aos municípios.

Qual é o período de intervalo entre as doses?

O Ministério da Saúde adotará o intervalo de oito semanas entre as doses pediátricas. No entanto, a aprovação do imunizante pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou um intervalo de 21 dias entre a primeira e a segunda dose. Esse é o mesmo período aprovado para uso do imunizante em outras faixas etárias.

Vale lembrar que a estratégia de aumentar o intervalo entre as doses também foi adotada pela pasta no início da campanha de vacinação de adultos, quando não havia doses suficientes disponíveis. O infectologista e pediatra Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria e membro da Câmara Técnica Assessora de Imunização Covid-19 (Ctai), que orienta o Ministério da Saúde sobre temáticas relativas à vacinação, já havia antecipado ao GLOBO sobre essa possibilidade.

Para ele, aumentar o intervalo entre as doses para vacinar o maior número de crianças, mesmo que parcialmente, é melhor do que imunizar completamente um público menor. Ele explica que estudos mostram que a proteção se sustenta com maiores intervalos de tempo entre as doses. Além disso, essa estratégia para ter um maior perfil de segurança, com a redução de reações adversas.

Meu filho está com sintomas de infecção, como coriza e dor de garganta. Ele pode ser vacinado?

Depende. De acordo com Kfouri, a recomendação é que crianças com síndrome gripal sejam testadas para gripe e Covid-19. Se o diagnóstico for positivo para um delas, o recomendado é adiar a imunização por 30 dias para Covid-19 e após a recuperação completa para gripe. Por outro lado, se após a consulta médica, ficar constatado que a criança te apenas um resfriado, rinite ou algo com sintomas leves, a vacinação está liberada.

— Só se adia a vacinação em quadros febris agudos — explica o médico.

A vacina para crianças é igual a de adultos?

Não. A vacina que será aplicada em crianças de 5 a 11 anos contém um terço da dose usada em pessoas a partir de 12 anos de idade. Para distingui-las, os frascos terão as cores laranja e roxa, respectivamente. O imunizante infantil poderá ser armazenado por um tempo maior, de 10 semanas, de 2°C a 8°C que a destinada a adultos, com prazo de quatro semanas. O frasco terá 10 doses.

O que acontece se a criança fizer 12 anos entre a primeira e a segunda dose?

A recomendação da Anvisa é que a criança termine o esquema de imunização com a mesma vacina recebida na primeira dose. Ou seja, neste caso, mesmo já tendo completado 12 anos, a criança irá receber o imunizante pediátrico.

As crianças poderão receber a vacina contra a Covid-19 no mesmo dia que outras vacinas?

Não. A Anvisa recomenda que haja, no mínimo, 15 dias entre a aplicação do imunizante contra a Covid-19 e as outras vacinas do calendário infantil. Kfouri explica que a precaução é necessária, pois ainda não existem dados sobre a aplicação simultânea de vacinas em crianças. O médico relembra que o mesmo ocorreu com os adultos, mas após estudos mostrano que é seguro, foi permitida a imunização simultânea para gripe e Covid, por exemplo.

Há alguma contraindicação para a vacina em crianças?

Segundo Renato Kfouri, não há contraindicação para aplicação em nenhuma criança, só para as que apresentarem alta reação após a primeira aplicação.

A vacina é segura para as crianças?

Sim. Dados de estudos clínicos e de mundo real mostram que a imunização infantil é segura. De acordo com a Pfizer, o perfil de segurança do imunizante no teste com crianças foi semelhante ao observado em outras faixas etárias. Os efeitos colaterais mais comuns foram fadiga, dor de cabeça, dores musculares e calafrios. Não houve nenhum caso de Covid-19 grave entre os participantes do ensaio, e nenhum caso de duas doenças cardíacas raras, como miocardite e pericardite, que foram associadas à vacina em adolescentes e adultos, especialmente jovens do sexo masculino.

Registros de vários países mostram que o principal evento adverso observado após a vacinação infantil é a dor no braço, no local da injeção. Outros efeitos transitórios relatados são vermelhidão e inchaço no braço, cansaço, dor de cabeça, dores musculares e calafrios.

Apesar do baixo risco da Covid-19 em crianças, devo vacinar meu filho?

Sim. Embora a participação das crianças no número geral de mortes por Covid-19 seja baixa — apenas 0,5% das mortes confirmadas no país —, o  número total de óbitos pela doença supera a letalidade por qualquer outra doença imunoprevenível. De acordo com dados do Ministério da Saúde, são 2.500 brasileiros com idade inferior a 20 anos mortos por Covid-19 desde o começo da pandemia. O que faz o coronavírus mais letal que males como o sarampo, rubéola e meningite juntos.

Na faixa etária que pode se vacinar, de 5 a 11 anos, 324 morreram em decorrência de complicações da Covid-19. Há ainda o risco de sintomas de longo prazo nas crianças acometidas.

As crianças vão precisar de dose de reforço?

Ainda não se sabe. Por enquanto, o reforço para crianças não foi anunciado por nenhum país. O que já está autorizado em alguns países, como os Estados Unidos, é a dose extra para adolescentes a partir de 12 nos de idade.

As crianças poderão receber outra vacina além da Pfizer?

Não. No Brasil, atualmente, o único imunizante aprovado para uso pediátrico é o da Pfizer.

Comments are closed.

This website uses cookies to improve your experience. We'll assume you're ok with this, but you can opt-out if you wish. Accept Read More

Privacy & Cookies Policy