
Desde o início de abril, foram notificados à Organização Mundial da Saúde (OMS) casos de hepatite aguda de origem desconhecida em crianças na Europa. Testes laboratoriais já excluíram a possibilidade de que os episódios tenham relação com os vírus conhecidos da hepatite: A,B,C,E e D.
No último dia 5 de abril, a OMS recebeu alerta de 10 casos entre crianças de 11 meses a 5 anos de idade na Escócia. Desses, nove começaram a manifestar sintomas em março e um começou a ficar sintomático em janeiro deste ano.
A partir de 8 de abril, investigações em todo o Reino Unido identificaram 74 casos. Entre esses, 49 estão na Inglaterra, 13 na Escócia e o restante no País de Gales e na Irlanda do Norte, de acordo com comunicado da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido.
A doença misteriosa parece estar atingindo pacientes de uma idade que varia conforme a localidade. A OMS informou que houve também três episódios da hepatite aguda em crianças com idades entre 22 meses e 13 anos na Espanha.
No último dia 12 de abril, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças divulgou que o número de casos suspeitos na Inglaterra subiu para 60, afetando pequenos entre 2 e 5 anos. Na Escócia, 10 hospitalizados eram crianças de 1 a 5 anos.
Segundo a revista Science, médicos na Dinamarca e na Holanda também estão relatando casos semelhantes. Nos Estados Unidos, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) anunciaram na última quinta-feira (14) que estão investigando nove casos no estado do Alabama.
Como se manifesta a doença
Entre os principais sintomas, está icterícia (pele amarelada), diarreia, vômito e dor abdominal. Os sintomas gastrointestinais foram observados principalmente em crianças de até 10 anos de idade, de acordo com a OMS.
Os pacientes apresentaram também enzimas hepáticas acentuadamente elevadas, sendo que alguns casos exigiram transferência para unidades pediátricas especializadas em fígado. Seis crianças tiveram que passar por um transplante do órgão. Até o dia 11 de abril, nenhuma morte foi relatada à OMS.
“Este é um fenômeno grave”, disse Deirdre Kelly, hepatologista pediátrica do Hospital Infantil de Birmingham, na Inglaterra, à Science. “Estas [eram] crianças perfeitamente saudáveis… até uma semana atrás”, lamenta a médica. Segundo ela, porém, a maioria dos pacientes se recupera por conta própria.
Em busca de uma causa
Primeiramente, suspeitou-se que as crianças poderiam estar ficando doentes devido a alguma exposição tóxica a alimentos, bebidas ou brinquedos, mas a principal hipótese agora é que seja um vírus. Vários dos pacientes, aliás, testaram positivo para o Sars-CoV-2 antes de serem internados, e metade deles estava infectado com um adenovírus, transmitido por gotículas respiratórias e contato com pessoas infectadas.
Pesquisadores escoceses supõem que o problema possa ser esse adenovírus — uma nova variante ou uma cepa já circulante. As crianças também podem ter ficado com o sistema imune mais fraco por conta do isolamento social adotado contra a Covid-19. Ainda assim, mais investigações são necessárias.
“Estamos vendo um aumento nas infecções virais típicas da infância à medida que as crianças saem do confinamento, [assim como] um aumento nas infecções por adenovírus”, afirma Will Irving, virologista clínico na Universidade de Nottingham, completando que não se pode ter certeza de que uma coisa está causando a outra.
Enquanto o assunto permanece um mistério, a OMS defende que mais esforços sejam feitos para identificar a origem das ocorrências. “Embora em alguns casos as crianças tenham testado positivo para Sars-CoV-2 e/ou adenovírus, a caracterização genética dos vírus deve ser realizada para determinar possíveis associações entre os casos”, disse a entidade, que não recomenda, por ora, a restrição de viagens e/ou comércio com o Reino Unido ou qualquer outro país.