Efedrina é usada no combate da pressão baixa em emergências

Descrita pela primeira vez na literatura médica ocidental em 1888, a efedrina é um componente de uma planta, a Ephedra vulgaris, utilizada pela medicina tradicional chinesa há mais de 5.000 anos. Hoje, ela é usada principalmente para a prevenção e tratamento da hipotensão (pressão baixa).

O que é efedrina?

Trata-se de um medicamento da classe dos estimulantes adrenérgicos, que também são chamados de alcaloides simpatomiméticos. Esses fármacos têm como característica a capacidade vasopressora, isto é, eles aumentam a pressão arterial.

Em quais situações ela pode ser usada?

De acordo com a farmacêutica Luciana Canetto, diretora e secretária-geral do CRF-SP, a efedrina já foi utilizada no passado como descongestionante nasal e broncodilatador. Porém, esses usos terapêuticos se tornaram mais restritos, seja pelo aparecimento de novos medicamentos, seja por seu perfil de segurança.

Atualmente, a efedrina geralmente é utilizada em hospitais para a prevenção e o tratamento da pressão baixa, especialmente quando ela se relaciona a anestesias (intratecal, epidural e geral). Além disso, ela pode ser útil em quadros de choque, que se caracteriza pela queda abrupta da pressão.

A literatura sobre esse fármaco esclarece ainda que os médicos podem também indicá-la para o alívio de alergias. No início da década de 2000, a efedrina —associada à cafeína e outras substâncias— também era utilizada em forma de suplemento para a perda de peso.

Contudo, esse uso foi descontinuado após a identificação de efeitos colaterais como arritmias, náuseas, problemas psiquiátricos e até fraqueza muscular. Os dados foram publicados pelo periódico médico Central European Journal of Medicine.

Entenda como a efedrina funciona

Como o medicamento é um estimulante do sistema adrenérgico, ele atua ativando o sistema simpático para aumentar a pressão arterial, bem como a atividade do coração por meio da constrição dos vasos periféricos.

Espera-se efeito imediato quando administrado na veia, no músculo ou abaixo da pele (subcutânea). A explicação é de Fernanda Cristina Ostrovski Sales, coordenadora do curso de Farmácia da PUC-PR. Após cumprir sua função, a efedrina é excretada majoritariamente pela urina.

Conheça as apresentações disponíveis

Esse medicamento deve ser utilizado sob prescrição médica, especialmente porque suas doses devem ser personalizadas. E lembre-se: nenhum medicamento é 100% seguro. Por isso, ele sempre deve ser utilizado de forma racional, ou seja, respeitando as doses prescritas no período de tempo definido pelo seu médico.

O fármaco de referência, cujo princípio ativo é a efedrina, é o Efedrin®. A medicação pode ser encontrada na forma de solução injetável, com a apresentação de 50 mg.

Quais são as vantagens de seu uso?

O cardiologista João Vicente da Silveira, médico-assistente da Unidade de Hipertensão do InCor-FMUSP afirma que embora a efedrina possa até ser útil em quadros de emergência, já existem outras opções de fármacos com o mesmo perfil e menor efeito colateral.

“A maior preocupação com esse medicamento é que, a depender da condição de saúde do paciente, ele pode levar a uma potencial e letal arritmia, o que causaria a morte súbita”, diz.

Saiba quando evitar a efedrina

Fale com seu médico ou farmacêutico, caso você tenha tido algum tipo de reação alérgica a medicamentos usados para o controle da pressão ou a algum componente da efedrina, e mesmo na hipótese de ter tido conhecimento de que alguém de sua família apresenta ou apresentou esse tipo de problema.

Além disso, evite usar essa medicação (ou avise seu médico) na presença das seguintes condições:

  • Gravidez
  • Hipertensão aguda
  • Taquicardia
  • Problemas cardiovasculares
  • Glaucoma (de ângulo estreito)
  • Pressão arterial materna maior que 130/80 mm Hg (na obstetrícia)
  • Anestesia com agentes como o ciclopropano ou halotano

O fármaco também deve ser indicado com cuidado para pessoas com hipertrofia prostática ou com insuficiência renal.

Crianças e idosos podem usá-la?

Sim, mas somente sob rigoroso acompanhamento médico. Isso porque o profissional deve estar atento à perfeita adequação das doses na população pediátrica, e também a situações como o uso de vários medicamentos ao mesmo tempo (polifármacia) entre idosos, assim como doenças pré-existentes.

Estou grávida e/ou amamentando, posso usá-la?

Como não existem estudos que garantam a segurança do uso desse medicamento durante a gravidez —seja para a gestante, seja para o bebê— a efedrina só deve ser utilizada quando for expressamente indicada pelo médico.

Caso esteja amamentando, informe ao médico sua condição para que ele possa decidir se o uso da efedrina é essencial para você e se ela poderia ser, ou não, prejudicial para você e seu bebê.

Como devo utilizá-la?

Em geral, esse medicamento só é utilizado em hospitais nas doses indicadas pelo seu médico e de acordo com o seu estado de saúde.

Quais são os possíveis riscos e efeitos colaterais?

A efedrina é bem tolerada pela maioria das pessoas quando suas doses são personalizadas. Porém, alguns pacientes podem apresentar desconfortos. Confira alguns exemplos:

  • Arritmia (palpitações)
  • Dor de cabeça
  • Tontura
  • Náusea
  • Vômito
  • Agitação
  • Ansiedade
  • Insônia

Interações medicamentosas

A efedrina não combina com alguns medicamentos. Isso significa que seu efeito pode ser reduzido ou alterado quando ele é utilizado junto a outras substâncias. Avise seu médico caso você já faça uso de outros fármacos como os indicados a seguir. Esta lista apresenta apenas alguns exemplos. Confira:

  • Outros vasopressores (dopamina)
  • Betabloqueadores (propranolol)
  • Psicofármacos (especialmente os IMAO, como a fenelzina)
  • Anestésicos (ciclopropano ou hidrocarbonetos halogenados)
  • Bloqueadores dos neurônios adrenérgicos (guanetidina)
  • Bloqueadores ganglionares (mecamilamina)
  • Antiácidos, acidificantes e alcalinizantes urinários
  • Psicodepressores e antipsicóticos (haloperidol, clorpromazina, flufenazina)
  • Antidepressivos tricíclicos (amitriptilina)
  • Diuréticos (furosemida)
  • Inibidores da catecol-O-metiltransferase (digoxina)
  • Opioides (tramadol)

É também importante informar o médico ou farmacêutico, antes de usar esse medicamento, o uso contínuo de algum suplemento ou fitoterápico

Há interação com exames laboratoriais?

A efedrina só ou em combinação com outros medicamentos, como os diuréticos, está na lista dos medicamentos proibidos para atletas. Para que ela possa ser utilizada, é necessária autorização formal de uso terapêutico porque a medicação pode levar a resultados de exames que indicam dopagem (doping).

Guia prático do uso do efedrina

Somente o médico ou um farmacêutico podem orientá-lo sobre a melhor forma de consumo desse medicamento. Apesar disso, há algumas informações que você deve conhecer para aproveitar o melhor que o fármaco pode oferecer. Confira:

  • Observe a validade do medicamento indicado no cartucho.
  • Lembre-se: após a abertura, alguns fármacos têm tempo de validade menor, o que também é influenciado pela forma como você o armazena;
  • Mantenha o medicamento sempre dentro da própria embalagem e nunca descarte a bula até terminar o tratamento;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Utilize o medicamento na posologia indicada;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio –eles podem ferir sua boca ou garganta. A exceção é a indicação médica;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos ou trancados. A ideia é dificultar o acesso das crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite o descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos – Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

 

 

Fontes: João Vicente da Silveira, cardiologista e médico-assistente da Unidade de Hipertensão do InCor-FMUSP (Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo); Fernanda Cristina Ostrovski Sales, farmacêutica-bioquímica pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), mestre em tecnologia em saúde pela PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), coordenadora e professora do curso de farmácia, atuando ainda como docente no curso de medicina da mesma instituição; Luciana Canetto, diretora e secretária-geral do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia em São Paulo), farmacêutica do Departamento de Assistência Farmacêutica da Secretaria Municipal de Saúde de Piracicaba (SP); Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de Farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e assessora técnica do CRF-SP. Revisão técnica: Amouni Mourad.

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