Gripe e Covid causam sobrecarga de testes nos postos de saúde, e farmácias já não conseguem atender demanda

RIO e SÃO PAULO — Dificilmente há, neste momento, um brasileiro que não conheça ao menos três pessoas com sintomas de gripe ou Covid-19. Depois das festas, os postos de saúde de diversas capitais estão com espera de horas de pessoas buscando fazer testes e as farmácias já não conseguem atender a demanda.

Há cinco dias, a média móvel de casos de Covid está em um patamar superior ao dobro do cálculo de 14 dias atrás, o que demonstra forte tendência de alta. Enquanto isso, o surto de influenza avança pelo Brasil.

Nos laboratórios particulares, esse crescimento se reflete no aumento da testagem. No Grupo Fleury, foram feitos 615 testes para influenza em novembro. O número saltou para quase 37 mil em dezembro. Para Covid, foram feitos mais de 123 mil testes em dezembro. A Rede Dasa identificou uma alta de 55,3% nos exames RT-PCR entre novembro e o mês passado. Os testes de antígenos também tiveram mais procura e a positividade alcançou 24,27% em 2 de janeiro, maior patamar já registrado pela empresa.

Alta no Rio

O Rio sentiu os efeitos do fim de ano e da chegada da variante Ômicron. Somente ontem, a taxa de positividade para testes de Covid-19 foi na cidade de 13%. Até meados de dezembro, esse número não ultrapassava 1%. Havia a expectativa de que mais pessoas procurassem os postos para receber a dose de reforço, o que não ocorreu.

— Percebemos um aumento da positividade dos testes. Já chegamos a ter 0,7%. Hoje tivemos um percentual parecido com o de três meses atrás. Das pessoas que testaram hoje, 34% foram a outros municípios passar o período de festas. Percebemos muito cariocas voltando para o Rio com sintomas de Covid-19. Isso era previsível de acontecer — disse o secretário de Saúde Daniel Soranz.

Em todo o estado do Rio, a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) registrou alta no número de testes rápidos para Covid com resultado positivo. Em novembro, foram 1.313, o equivalente a 4,4% do total. De 1º a 19 de dezembro, 2.349, ou 8,46% do total.

Em várias cidades do país, a explosão de sintomas respiratórios sobrecarregou redes de drogaria e unidades de saúde. Na cidade de São Paulo, em nenhuma das 25 farmácias contatadas pela GLOBO ontem havia disponibilidade de testes de Covid-19 para realização no mesmo dia. O Grupo DPSP, que inclui as Drogarias Pacheco e Drogaria São Paulo e está presente em nove estados, registrou um aumento de 101% nos exames de infecção por coronavírus na última semana de dezembro em relação à primeira.

A prefeitura da capital paulista informou que, apenas nos três primeiros dias de janeiro, foram realizados 20.333 atendimentos a pessoas com sintomas respiratórios, sendo 11.585 suspeitos de Covid. O resultado são longas filas de gente com tosse, dores no corpo, dor de garganta e febre.

A jornalista Cristiane Sinatura, 32 anos, foi uma dessas pessoas. Após uma viagem ao Rio, começou a sentir tosse. Na noite de réveillon, passou a ter febre, dor de garganta e dores pelo corpo. Na manhã de ontem, tentou uma consulta por telemedicina mas não havia previsão de atendimento devido ao excesso de chamadas. Então foi à farmácia e fez um teste rápido, que deu negativo para Covid. Mesmo assim, preferiu ir a um posto na Vila Madalena, mas desistiu ao saber que teria que ficar 2h30 na fila.

— Confio na vacina, tomei três doses, então não me preocupo tanto com a evolução, mas fico tensa por não saber o que eu tenho. Preciso descobrir até para entender quanto tempo devo ficar em isolamento — afirma.

Elisângela Chable, empresária de 27 anos, pensou estar com gripe depois de ter febre de 39 graus e calafrios. Com o passar dos dias, surgiram a tosse e a dor no corpo. Diante disso, optou por enfrentar a espera de mais de três horas em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) na Lapa.

— Decidi tratar em casa mesmo. Mas preciso saber o que tenho para seguir a vida. Não posso parar de trabalhar — conta Chable.

Diante do aumento, a prefeitura paulista adquiriu 150 mil testes rápidos de influenza para serem utilizados nas 469 UBS do município. Apenas entre 30 e 31 de dezembro foram feitos 5.321 testes, com 26% de positividade.

Outras capitais

A situação se repete em outras capitais. Em Belo Horizonte, as unidades de saúde também estão cheias de pacientes com sintomas gripais. Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Norte, a fila de espera para atendimento de pacientes com sintomas respiratórios era de 3,5 horas. Em nota ao GLOBO, a prefeitura informou que para suprir o aumento na demanda decidiu ampliar o horário de funcionamento de nove Centros de Saúde — um por regional, de forma escalonada.

Já em Curitiba, a procura de testes de Covid-19 vem aumentando, assim como os diagnósticos positivos, desde 22 de dezembro. De acordo com o endocrinologista Mauro Scharf, responsável técnico pelo laboratório Unimed Curitiba, em novembro e no início de dezembro, o laboratório realizava, em média, 100 a 150 exames de Covid por dia. No final do ano, esse número começou a subir e hoje são realizados cerca de 600 exames diários. A taxa de positividade passou de 2,2% no dia 24 de dezembro para 38% em 2 de janeiro.

No Hospital Moinhos de Vento, um dos principais de Porto Alegre (RS), houve aumento gradativo dos atendimentos por síndrome gripal. Em 25 de dezembro, a proporção desses atendimentos era de 35%, passando para 50% no dia 2 de janeiro. No mesmo período do ano passado, pacientes com sintomas respiratórios representaram em torno de 20% do total de atendimentos. Por outro lado, os sintomas apresentados pelos pacientes são leves e as internações são raras, de acordo com o hospital.

Piora à vista

Para o infectologista Alberto Chebabo, vice-diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), já existe um aumento de casos de Covid-19 e influenza no Brasil decorrente das confraternizações de fim de ano e do Natal, causado pela variante Ômicron. Mas isso irá piorar nas próximas semanas.

— Sem dúvida teremos uma explosão de casos de Covid-19 nas próximas semanas, como aconteceu em todos os outros países — alerta o médico.

Porém, ele ressalta que esse aumento não é culpa exclusiva do réveillon:

— Muitas pessoas ficaram preocupadas com os fogos de Copacabana, por exemplo, mas reuniões com muitas pessoas em ambiente fechado, como é mais comum no Natal ou nas confraternizações, tem um risco muito maior de transmissão. As pessoas estão se expondo sem nenhuma restrição.

Agora, segundo ele, é necessário aumentar a testagem e a proteção individua.

— O Brasil ainda testa pouco. É importante aumentar a capacidade de testagem. Para isso, o Ministério da Saúde precisa comprar testes e distribuir para os municípios para que estejam disponíveis na rede pública. E quem estiver sintomático deve ficar isolado em casa — recomenda.

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