Hospital de BH usa pele de tilápia em cirurgia de reconstrução em mulheres com doença rara

RIO — Duas mulheres portadoras da síndrome de Rokitansky, uma doença rara, que provoca alterações na formação do útero e da vagina passaram por uma cirurgia a partir de uma técnica que utiliza pele de tilápia para reconstruir o canal vaginal. O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais é o primeiro centro de saúde mineiro a aplicar a técnica cearense.

Segundo o HC, a doença afeta uma em cada cinco mil mulheres. A unidade hospitalar espera receber outras pacientes de Minas Gerais, com o mesmo diagnóstico e em tratamento no SUS, para realizar o procedimento.

— A pele da tilápia contém grande quantidade de colágeno tipo 1, que a torna tão forte e resistente quanto a pele humana. Além disso, o processo de manufatura da pele de tilápia é rápido e barato — afirma o idealizador da técnica ginecológica, o professor Leonardo Bezerra, médico na Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC), da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Diferentemente do que acontece com as próteses industriais, a pele da tilápia tem o baixo risco de rejeição, segundo destaca Bezerra. Ele explica que, por se tratar de um animal aquático, não existe cruzamento de infecções entre os seres humanos e a tilápia.

Cirurgia

A cirurgiã e coordenadora do Setor de Uroginecologia do HC, Marilene Vale C. Monteiro, explica que a cirurgia, considerada de média complexidade, tem duração de aproximadamente uma hora. O cirurgião cria um espaço entre a vagina e o reto, forrando-o com a pele de tilápia. Um molde em formato de vagina é então colocado nesse espaço para impedir que as paredes da “nova vagina” se juntem enquanto as células dos tecidos da paciente e as células e fatores de crescimento liberados pela pele de tilápia se transformam em um novo tecido com células iguais à de uma vagina real.

— As mulheres com a síndrome de Rokitansky, ou anegesia vaginal, nascem sem o canal vaginal, e os sintomas variam. Se elas não realizarem a cirurgia, não há como a menstruação descer, se a mulher tiver o útero, e elas terão dificuldade em manter relação sexual — explica.

A técnica, ainda em fase de estudo comparativo pelo Hospital das Clínicas — entre duas abordagens, uma delas utilizando a pele de tilápia — vem sendo aplicada desde 2017 no Ceará e já beneficiou 25 pacientes em todo o país.

Regenerador natural

A pele de tilápia também vem sendo utilizada no tratamento de queimados, como regenerador natural da pele humana. A técnica foi implantada em 2015 pelo pesquisador e cirurgião plástico Edmar Maciel, presidente do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), vinculado ao Instituto Dr. José Frota (IJF), na capital cearense.

Na área ginecológica, além de auxiliar no tratamento da síndrome de Rokitansky, a pele de tilápia também é aplicada em cirurgias de redesignação sexual e reconstrução vaginal após radioterapia para câncer de vagina.

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