OMS: diretor da organização posta novo nome da varíola dos macacos no Twitter; saiba qual

Ainda em junho, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou que a entidade estava trabalhando com parceiros e especialistas para uma nova nomenclatura ‘não discriminatória’ em relação à varíola dos macacos e às variantes do vírus causador da doença. Em agosto, a organização chegou a renomear as cepas do vírus, porém ainda não tinha decidido sobre a terminologia da doença e abriu, na época, uma consulta pública sobre o tema.

Agora, de acordo com o diretor do Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde sobre Legislação Sanitária Global, Lawrence Gostin, a OMS chegou a um novo nome para se referir à infecção: MPOX. Segundo publicou em sua conta no Twitter, Gostin afirma que a organização deve anunciar em breve a mudança de modo oficial.

“OMS está para anunciar MPOX como a nova terminologia. Olhar vencido. Os estereótipos racistas da varíola dos macacos não eram apenas estigmatizantes, mas também impediram a resposta e diminuíram a cooperação. A sociedade civil e o USG (governo dos Estados Unidos) têm pressionado pela mudança de nome”, escreveu na rede social.

 

Ontem, o site Politico também afirmou que a OMS decidiu pelo nome MPOX, segundo fontes próximas à organização, e disse que a entidade pode fazer o anúncio ainda hoje. Além disso, as fontes destacaram que, embora já tivesse sido anunciada há meses, a alteração ocorreu agora em parte pela pressão do governo americano, como apontado por Gostin.

De acordo com as informações, membros do governo dos EUA teriam pedido urgência no assunto para líderes da OMS, e ameaçado alterar o nome de forma unilateral caso a organização não acelerasse a mudança. Eles temem que o estigma relacionado ao termo “monkeypox”, varíola dos macacos em português, possa estar influenciando para que pessoas deixem de buscar o imunizante, disponível no país.

Por que mudar o nome?

 

Em agosto, quando lançou a consulta pública, uma porta-voz da OMS explicou que “é muito importante que encontremos um novo nome para a varíola dos macacos, porque esta é a melhor prática para não criar nenhuma ofensa a um grupo étnico, uma região, um país, um animal”.

As críticas ao nome começaram devido à menção ao macaco. Assim como a gripe espanhola não surgiu na Espanha, a varíola dos macacos não tem os animais como hospedeiros da doença. Porém em 1958, quando o vírus foi isolado pela primeira vez, cientistas dinamarqueses utilizaram um macaco cinomolgo (Macaca fascicularis), espécie natural da Ásia, para conseguir o feito – o que acabou criando o nome “monkeypox”. No entanto, os principais animais que carregam o vírus são roedores.

A ligação incorreta chegou a ser encarada como a causa de envenenamentos e ferimentos a macacos de uma reserva natural em Rio Preto, no Estado de São Paulo, em agosto, logo após casos da varíola terem sido diagnosticados na região. Na época, a OMS lamentou o ocorrido e reforçou que o surto atual é causado pela transmissão entre humanos.

Além do problema com o nome do animal, em junho, cerca de 30 especialistas ao redor do mundo fizeram uma publicação no virological.org – site em que virologistas compartilham informações sobre vírus em tempo real – pedindo a alteração no nome da doença e das variantes do vírus devido ao estigma criado em relação à África.

Chamada de “Necessidade urgente de uma nomenclatura não discriminatória e não estigmatizante para o vírus monkeypox”, o documento afirma que o patógeno, que se tornou uma emergência de saúde internacional, tem características diferentes daquelas observadas na versão do vírus que era endêmica em 11 países africanos. Além disso, afirmam que o termo reforça uma associação da doença ao continente africano, restrição que não é mais realidade.

“Acreditamos que um nome distinto e conveniente para o vírus causador dessa epidemia facilitaria a comunicação sem maiores conotações negativas”, escreveram à época. Eles pediam ainda, de forma mais urgente, a retirada das regiões africanas nos nomes das variantes do vírus. O pedido foi atendido em agosto, quando o Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus (ICTV), da OMS, oficializou as alterações.

 

Antes chamadas de Clado do Congo – variante predominante na África Central – e Clado da África Ocidental, agora as linhagens são Clado I e Clado II, respectivamente. O Clado II é dividido ainda em duas sublinhagens, o Clado IIa e o Clado IIb.

O movimento é semelhante ao realizado no ano passado, quando a OMS passou a adotar letras gregas para as cepas da Covid-19, no lugar da referência ao país em que ela foi identificada. Na época, a epidemiologista-chefe da OMS e líder da resposta ao novo coronavírus, Maria Van Kerkhove, destacou que “nenhum país deve ser estigmatizado por detectar e relatar novas variantes”. Foi, por exemplo, quando a antiga “variante indiana” passou a ser chamada de variante Delta.

Fonte: Bernardo Yoneshigue- O Globo

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