
RIO — O consumo do suplemento biotina, uma das vitaminas do complexo B, tem ganhado força no Brasil. O uso traz uma série de benefícios, que vão desde ajuda para emagrecer, melhora na resistência de cabelos e unhas e força no treino. Mas até que ponto a série de efeitos positivos listados na embalagem do produto de fato são verdadeiras? Nem sempre.
Os benefícios na saúde do cabelo, da pele e da unha são comprovados, porque ela atua na síntese da queratina, composto importante nessas estruturas do corpo. Ela também age estimulando a produção do colágeno, um dos componentes que dá sustentação da pele — explica a nutricionista Priscilla Primi, colunista do GLOBO e mestre em saúde pública pela Universidade de São Paulo (USP).
Mas não há embasamento científico em relação à função emagrecedora, destaca a especialista.
— A biotina ajuda no metabolismo de gorduras, lipídios, mas não se sabe se ela de fato tem uma relação com o processo de emagrecimento ou de ganho de massa muscular. O que se suspeita é que como ela ajuda na metabolização desses nutrientes para a geração de energia que a falta dela comprometa esses processos — reforça Priscilla.

O médico nutrólogo Márcio Velasques, especialista em emagrecimento, pontua que a ação da biotina de fato está ligada à ativação de enzimas que aceleram o metabolismo corporal, mas explica que os estudos para entender o potencial para redução de peso ainda não comprovaram uma relação.
— Algumas pesquisas, incluindo estudos em animais, sugerem que pessoas com diabetes tipo 2 poderiam se beneficiar de tomar suplementos de biotina para ajudar a regular os níveis de glicose no sangue. A pesquisa até agora não é conclusiva, no entanto. Essa regulação, em tese, poderia promover o auxílio no processo de emagrecimento, porém, novamente, mais pesquisas são necessárias para apoiar isso — alerta Velasques.
As maiores consumidoras são as mulheres. A empresária de Florianópolis (SC) Fernanda Póvoas, de 35 anos, incluiu a biotina no seu dia a dia há cerca de quatro anos.
— Tomo dois suplementos, um para cabelo, unhas e pele e outro para ajudar na absorção de carboidratos, para que o corpo não absorva tanto açúcar e gordura, sentir menos fome. Ele me ajuda bastante na questão da saciedade. É claro que é um conjunto de hábitos, como alimentação e atividade física, mas ajudou também a emagrecer — conta Fernanda.
Uma ação positiva do suplemento é o ganho de energia na hora de treinar. A médica Alessandra Heimbecher, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), ressalta que, embora poucos, alguns estudos comprovam realmente esse potencial.
— Existem efeitos da biotina associados à potencialização do metabolismo, à regulação de glicose, à redução na resistência insulínica, fatores que podem ser usados como benefícios para pessoas que treinam de forma a melhorar a performance — explica Alessandra.
Riscos no excesso do suplemento
A vitamina é naturalmente encontrada em alimentos como carnes, derivados do leite, vegetais, sementes e bananas. Mas pelo fato de ser hidrossolúvel, ou seja, o organismo utiliza somente o necessário e elimina o excesso pela urina, seria preciso uma grande dosagem para fazer mal. O dano maior são distorções nos resultados de exames laboratoriais.
— A dosagem recomendada por dia é de 30 microgramas, sendo que muitos suplementos contêm mais de 10 miligramas de biotina, então é uma quantidade brutal que de fato pode atrapalhar a interpretação correta dos testes laboratoriais — afirma Alessandra.
Isso é especialmente perigoso pois pode levar a um diagnóstico errado para determinadas doenças, ou até mascarar distúrbios presentes no organismo, explica Velasques.
— Por isso sempre informe ao seu médico ou nutricionista se está utilizando algum suplemento que contém biotina — recomenda o especialista.
Deficiência de biotina
O papel da biotina no funcionamento regular do organismo é brutal, especialmente durante a gravidez, uma vez que se trata de um nutriente importante para o crescimento embrionário. Por isso, médicos chamam a atenção para quadros que podem levar à deficiência do nutriente, como o consumo exagerado de álcool e tabagismo.
Além disso, as bactérias presentes na microbiota intestinal também produzem a biotina, então situações que afetam a região podem provocar uma carência da vitamina, como por exemplo procedimentos de cirurgia bariátrica.
— A terapia com antibióticos prolongada também pode levar à deficiência da biotina, porque você pode ter uma destruição dessas bactérias intestinais e, com isso, o intestino não produz a biotina de forma adequada — destaca Andressa, endocrinologista da SBEM.
Crescimento no Brasil
Os suplementos vitamínicos no geral crescem no Brasil, apontam dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (Abiad). Os números mostram um aumento de 10% nos últimos cinco anos e uma realidade em que cerca de 59% das casas brasileiras tinham ao menos uma pessoa fazendo uso de um suplemento em 2020.
Entre essas pessoas, 85% dizem utilizar esses produtos para benefícios na saúde e 69% para a prática de atividades físicas. 51% dizem ter o consumo orientado por um especialista.