Melatonina chega ao Brasil: o que é, para que serve e benefícios do hormônio do sono

SÃO PAULO — Em outubro passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a melatonina na forma de suplemento alimentar. Agora, ela começa a chegar às farmácias de todo o país e já atende a uma demanda reprimida.

A fabricante Macrophytus, por exemplo, abriu pré-venda assim que a saiu a decisão da Anvisa. Começou a entregar o produto nesta semana para 4.386 farmácias e 116 distribuidoras, num total de mais de 85 mil frascos chegando ao mercado. O suplemento de outra fabricante, a Equaliv, já está à venda em quase todas as regiões do país e a empresa afirma que muitos estabelecimentos fizeram pedidos de reposição.

— A melatonina só podia vir importada ou feita em farmácias de manipulação, por isso, quando a Anvisa liberou, estava todo mundo esperando. A expectativa é vender bastante — afirma o CEO da Macrophytus, Guilherme Spillere.

O que é melatonina e para que serve?

A melatonina é conhecida como o hormônio do sono. Na verdade, é mais do que isso: é uma das principais responsáveis pelo ciclo biológico de quase todos os seres vivos, usada no ritmo circadiano que regula a atividade física, química, fisio e psicológica do corpo humano. O hormônio induz todas as modificações necessárias para o repouso, como sono, jejum e redução da atividade cardiovascular, da pressão, da frequência cardíaca e até da temperatura corpórea.

Bruno Halpern, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP), explica:

— Não é o hormônio do sono, é o hormônio da noite, é diferente. É o mensageiro que avisa o corpo que é noite e as funções vão além de fazer dormir: o fígado para de produzir glicose e o pâncreas diminui a produção de insulina, por exemplo.

Segundo o endocrinologista, a melatonina ajuda, sim, a dormir, mas não é uma panaceia, funciona especialmente para aqueles que estão com deficiência no hormônio.

A melhor evidência que existe é o uso em pessoas idosas já que, a partir dos 60 anos, a produção cai e chega a ser 25% menor do que em jovens. Também pode haver diminuição do hormônio no período menstrual ou em razão de distúrbios endócrinos.

Há outras pessoas que podem contar com os benefícios da melatonia. Atualmente, com a presença até tarde em lugares muito iluminados, uso de computador e celular, mesmo jovens podem ter o relógio biológico alterado, não só pela luz, mas pelos estímulos. Pode ainda servir como recurso para pessoas que viajam para o leste e que sofrem com jet lag.

A melatonina também é muito utilizada nos casos de distúrbio de ritmo circadiano, que são aquelas pessoas noturnas com tendência a dormir de madrugada e acordar mais tarde pela manhã, mas que precisam acordar cedo, para estudar ou trabalhar, por exemplo. Assim, o hormônio é tomado no começo da noite com o objetivo de mandar um sinal de desaceleração para o corpo. O mesmo vale para pessoas que são obrigadas a acordar 3h, 4h da manhã.

— Não é um remédio universal para insônia. É preciso avaliar vários fatores: será que a pessoa produz pouca melatonina? Ou será que a causa do problema para dormir dela é outra? Ela pode ajudar com a vantagem de mexer menos com a arquitetura do sono do que os remédios para dormir. Se a pessoa tomar remédio num dia e no outro a melatonina, certamente dormirá mais rápido com o remédio que induz sono, mas tem mais efeitos futuros — afirma Halpern.

Quais são os efeitos colaterais da melatonina?

Para Halpern, por ser um hormônio, o ideal seria fosse vendida como um remédio, com bula e controle da Anvisa, e não na forma de suplemento. No entanto, ela não costuma ter muitos efeitos colaterais.

Quando a melatonina começa a fazer efeito?

A médica e pesquisadora do Instituto do Sono Dalva Poyares explica que são necessários cerca de 15 dias para que a melatonina realmente possa consolidar o ritmo biológico. Para isso, deve ser tomada diariamente, no mesmo horário, um pouco antes de deitar.

Mas Poyares aconselha as pessoas a buscarem, primeiro, entender as causas para sua dificuldade para dormir. Às vezes, outros problemas de saúde podem interferir, como obstrução nasal ou refluxo, questões que a melatonina jamais poderia solucionar.

— A melatonina não vai ajudar todas as pessoas que têm problema de sono. É preciso entender o que está acontecendo e se ela tem como melhorar isso. Ela pode consolidar o ritmo biológico, mas tem que tomar direito, que significa ter horário fixo para dormir toda noite. Se quiser adiantar o ritmo, tem que tomar mais cedo — afirma a médica.

Qual a dosagem de melatonina para dormir?

De acordo com a resolução da Anvisa, os suplementos devem conter advertência de que o produto não deve ser consumido por gestantes, lactantes, crianças e pessoas envolvidas em atividades que requerem atenção constante e são destinados exclusivamente a pessoas com idade igual ou maior que 19 anos e para o consumo diário máximo de 0,21 mg.

Para a especialista, a Anvisa foi coerente ao liberar uma dose de apenas 0,21 mg, que é mais parecida com a fisiológica. Na Europa, as doses à venda mais comuns são de 1mg ou 2 mg e, nos EUA, as doses costumam ser de 3, 5 e até 10 mg. O risco é que uma dose elevada assim deixe resíduo pela manhã, fazendo com que a pessoa tenha a impressão de estar um pouco sedada. Para despertar naturalmente, a dose de melatonina no organismo deve estar muito baixa.

Qual é o preço dos produtos?

Varia de acordo com a forma (gotas ou comprimido). Em geral, em torno de 40 reais.

O Globo

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